Câncer e HIV certamente estão no topo da lista de doenças que ninguém quer ter. No entanto, o californiano Paul Edmonds, de 68 anos, tinha ambos. O diagnóstico de Aids veio primeiro, em 1988. Na época, isso era quase uma sentença de morte. Mas Edmonds sobreviveu. Até que em 2018 ele foi diagnosticado com leucemia mielóide aguda, um tipo de câncer no sangue. No ano seguinte, Edmonds foi submetido a um tratamento que o curaria das duas doenças: um transplante de medula óssea.
Outros cinco pacientes foram curados do HIV após o mesmo procedimento, mas Edmonds é o mais velho a atingir esse feito.
Cinco anos após o procedimento , ele está oficialmente em remissão do câncer e dentro de mais dois anos, poderá ser considerado “curado” do HIV, já que isso marcará cinco anos desde que foi considerado oficialmente livre da doença. O marco foi anunciado em carta publicada recentemente na revista científica New England Journal of Medicine pela equipe médica responsável pela surpreendente recuperação.
Edmonds viveu com HIV durante 31 anos. Desde 1997, ele estava em terapia antirretroviral, o que suprimiu efetivamente o vírus a níveis indetectáveis. Mas esse tratamento não cura a doença. O DNA do vírus estaria sempre presente nas células do seu sistema imune. O transplante de medula mudou isso.
O tratamento por trás da remissão é conhecido como transplante de células-tronco ou, em termos médicos, transplante alogênico de células hematopoiéticas. É usado como parte final do tratamento para cânceres do sangue, como leucemia, mieloma e linfoma, onde as células-tronco formadoras de sangue na medula óssea de um paciente foram destruídas por radiação ou quimioterapia.
Células-tronco formadoras de sangue saudáveis de um doador com genes semelhantes (mas não idênticos) são transplantadas para o paciente, onde podem começar a produzir sangue livre de câncer. Neste caso, relatam os médicos, as células doadas também tinham duas cópias de uma mutação genética rara chamada CCR5 delta-3, que torna as pessoas que a têm resistentes ao HIV.
O HIV utiliza o receptor CCR5 para entrar e atacar o sistema imunológico, mas a mutação CCR5 significa que o vírus não pode entrar através desta via.
Apenas cerca de 1 a 2% da população tem esta mutação, mas um doador compatível com Edmonds com a mutação foi encontrado através do programa de transplante de células-tronco e medula óssea do hospital City Hope, onde ele fazia seu tratamento.
O transplante, realizado em 2019, substituiu totalmente a medula óssea e as células-tronco do sangue de Edmonds pelas do doador. Desde então, ele não mostrou mais sinais do câncer nem do HIV. Mas como o paciente só parou de tomar as terapias antirretrovirais para o HIV dois anos após o procedimento, ele será considerado oficialmente curado da doença daqui a dois anos, depois de ter parado de tomar antirretrovirais durante cinco anos.
Esse tipo de transplante é extremamente arriscado para a vida do paciente, por isso, ele não é recomendado como um tratamento para pessoas que vivem apenas com HIV. Ele é indicado apenas para pacientes com cânceres do sangue potencialmente fatais, com a possibilidade de curar o HIV como bônus.
“Para aqueles que beneficiariam de um transplante de células estaminais para tratar o câncer, a ideia de que poderiam entrar em remissão do VIH simultaneamente é espantosa”, diz Jana Dickter, médica da City of Hope envolvida no caso de Edmonds.
Fonte: O Globo
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