Conhecer a "linguagem do amor" é considerado a chave para relacionamentos românticos bem-sucedidos. Essa teoria surgiu em 1992, disseminada pelo pastor batista Gary Chapman. Ele publicou um manual no qual dizia que existem cinco linguagens do amor e que cada pessoa se expressa por uma delas.
De acordo com essa teoria, problemas de relacionamento surgem quando os parceiros falam línguas diferentes. As cinco linguagens do amor são: palavras de afirmação, tempo de qualidade, recebimento de presentes, atos de serviço e toque físico.
A teoria de Chapman é extremamente popular. Seu livro foi traduzido para 50 idiomas e vendeu 20 milhões de cópias. Recentemente, ela também se disseminou nas redes sociais, entre a geração Z. Esse público tem quase uma obsessão pelas linguagens do amor: vídeos no TikTok com a hashtag #LoveLanguage (ou "linguagem do amor", em tradução livre), obtiveram um total de 5,3 mil milhões de visualizações.
Entretanto, novas pesquisas colocam em xeque essa teoria. De acordo com psicólogos da Universidade de Toronto, no Canadá, existem mais do que apenas cinco linguagens do amor. Além das "originais", outras incluem: apoiar a autonomia de um parceiro, integrar o parceiro no seu círculo social e desenvolver estratégias eficazes de gestão de conflitos.
Em seu último relatório sobre o assunto, publicado na revista científica Current Directions in Psychological Science,os psicólogos canadenses afirmam que "o amor não é semelhante a uma linguagem que precisamos aprender a falar, mas pode ser mais apropriadamente entendida como uma dieta equilibrada na qual as pessoas precisam de uma gama completa de nutrientes essenciais para cultivar um amor duradouro".
“Estas descobertas desconsideram a noção de que cada pessoa tem uma linguagem de amor primária e ilustram que as pessoas valorizam todas as cinco linguagens de amor, mas talvez em contextos diferentes", escrevem.
Essa equipe também acredita que o foco rígido nessa questão evita a pergunta crucial a ser feita nos relacionamentos românticos: "como posso fazer você se sentir mais amado agora?".
"As pessoas relatam que consideram todas as coisas descritas pelas linguagens do amor extremamente importantes em um relacionamento", disse Emily Impett, professora de psicologia da Universidade de Toronto Mississauga e autora do último estudo.
No artigo, eles citam o seguinte exemplo: "se tivessem que escolher, a maioria das pessoas poderia preferir passar mais tempo com o parceiro do que receber presentes, pois é algo que podem fazer com mais frequência com o parceiro na vida diária, mas se avaliassem independentemente cada linguagem do amor , eles podem classificar o recebimento de presentes como bastante significativo porque representa uma maneira ocasional, mas especial, pela qual seu parceiro comunica seu amor.".
Além disso, especialistas ressaltam que a teoria das cinco linguagens do amor não foi testada em grandes estudos e as evidências que apontam para sua validade são duvidosas. Chapman não é pesquisador ou psicólogo, mas possui formação avançada em antropologia e educação de adultos.
Em um estudo para testar a validade dessa teoria, psicólogos australianos avaliaram em 67 casais heterossexuais a hipótese de que compartilhar linguagens de amor promoveria mais satisfação em seu relacionamento. No entanto, os resultados mostraram que apesar de a maioria dos participantes saber com precisão a linguagem do amor do seu parceiro, "isso não correspondeu a uma maior satisfação no relacionamento conjugal".
Outra crítica é que a "teoria das linguagens do amor," de Chapman tem um lado manipulador. Aprender a falar a linguagem do amor do seu parceiro pode ser usado para embalar o parceiro com uma falsa sensação de segurança e intimidade.
Também pode permitir que um parceiro use a linguagem de amor do outro contra ele, retendo expressões de amor da maneira preferida para controlar seu comportamento.
Apesar das críticas, Chapman permanece fiel à sua teoria. Em entrevista recente ao Washington Post, ele afirmou que "esse conceito foi o que mudou emocionalmente" o casamento de um número significativo de pessoas ao longo dos 30 anos.
Fonte: O Globo
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