Em ao menos treze capitais do país a população precisa esperar, em média, mais de um mês para ter uma consulta médica na rede municipal do Sistema Único de Saúde (SUS). Com a expectativa frustrada de pacientes, o tema é alvo de promessas e discussões de candidatos para as prefeituras nas eleições deste ano.
Levantamento feito pelo GLOBO a partir de dados do Ministério da Saúde e das gestões de capitais com o mês de agosto como base mostra que, entre as administrações que forneceram dados oficiais, Cuiabá é a que tem o maior tempo médio de espera para consultas, com 197 dias para o paciente ser atendido. A capital mato-grossense também tem o maior tempo de espera para cirurgias eletivas (168 dias).
Na corrida eleitoral de Cuiabá, as críticas à atual gestão do MDB, de Emanuel Pinheiro, vão do União Brasil, passando pelo PL e chegando ao PT. Em um dos debates, Eduardo Botelho (União) disse que um dos focos de sua gestão seria a redução das filas. Para isso, ele pretende investir em ações primárias, aumento da equipe da saúde da família e a criação de três policlínicas.
No ano passado, com a crise na área, a saúde do município chegou a sofrer intervenção do estado. Neste contexto, Lúdio, candidato do PT, promete ser o "prefeito da saúde" e acabar com a espera para o atendimento. Na última sexta-feira, o petista chegou a usar um depoimento em vídeo da ministra da Saúde, Nísia Trindade, para pedir votos.
— Lúdio Cabral conhece a fundo o Sistema Único de Saúde e todos os programas do governo federal — disse Nísia.
Ainda de acordo com o levantamento, moradores de Florianópolis são os que têm enfrentam maior tempo de espera para exames, 583 dias, em média. Na capital, candidatos também prometem "zerar" a fila.
O ranking das filas conta com dados de 17 capitais, já que Rio Branco (AC), Macapá (AP), Fortaleza (CE), Salvador (BA), João Pessoa (PB), Curitiba (PR), Aracaju (SE), Belo Horizonte (MG) e Goiânia (GO) não responderam à solicitação do GLOBO.
O menor tempo de espera para consultas é registrado em Maceió, com 7,75 dias. Já Belém tem a menor média para a realização exames, com 7,95 dias, e Recife registra o menor tempo médio para as cirurgias eletivas, 4,79 dias.
A professora de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB), Carla Pintas, ressalta que as prefeituras dos municípios têm a responsabilidade sobre a gestão dessas filas.
— O município tem a obrigação de acompanhar o andamento dessa fila, para conferir se está avançando, se algum paciente acabou entrando em mais de uma fila. Essa leitura e filtro das filas tem que ser feito regularmente pelas prefeituras — diz a especialista.
Em São Paulo, candidatos como Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB) se comprometem a diminuir as esperas. José Luiz Datena (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal (PRTB) vão além e dizem que vão zerar algumas das filas.
Em junho, o tempo médio de espera para exames era de 55 dias, 107 para consultas e 160 dias para as avaliações nas especialidades cirúrgicas. Em nota, a prefeitura destacou que, sob a atual gestão, os investimentos ano a ano e o orçamento do setor passou de R$ 10 bilhões, em 2016, para R$ 20 bilhões, em 2024.
“Em 2023, a rede executou 69.802.181 procedimentos e consultas médicas de Atenção Básica, além de 10.039.448 de consultas em urgência e emergência na área hospitalar”, completa a nota.
No Rio de Janeiro, Tarcísio Motta (PSOL) quer diminuir as filas com a contratação de mais médicos especialistas. Enquanto isso, Alexandre Ramagem (PL) propõe diminuir em 80% a fila do Sisreg na rede municipal criando turnos extras nas unidades de saúde.
Segundo o cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Geraldo Tadeu, problemas com a saúde pública são historicamente decisivos nas eleições.
— E o símbolo mais visível da falência dos serviços de saúde é a fila, que representa a dificuldade de atender a demanda da população. Então se cria uma expectativa muito grande no período eleitoral, e os políticos têm que fazer discurso vendendo esperança. Não adianta falar que é um problema complicado, que vai ser difícil, ele fala que vai resolver — ressalta o especialista.
A última Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019 mostrou que mais de 150 milhões de brasileiros, ou seja sete em cada dez, dependiam exclusivamente do SUS para cuidar de sua saúde.
Na visão de Carla Pintas, o problema das grandes filas pode ser resolvido principalmente com o fortalecimento dos serviços de atenção primária à saúde. Segundo ela, a adoção de consultas à distância nas redes municipais pode ser um caminho para resolução deste problema histórico na saúde brasileira.
— Se o paciente precisa fazer uma consulta com um endocrinologista, que não tem no município dele, hoje a gente consegue fazer isso online junto com o médico da atenção primária, e isso já se resolve lá. Essa é uma alternativa excelente pensando também no deslocamento que o paciente precisa fazer. E não precisa de muita tecnologia para isso, é só ter um celular ou uma câmera.
Para a medição do tempo médio de espera no levantamento, foi realizada uma média ponderada entre as diferenças das datas de execução/internação e as datas de solicitação das demandas registradas no Sistema de Regulação (SISREG) para calcular o tempo médio de agendamento.
Desde julho O GLOBO solicitou os dados referentes ao tempo de espera das filas às capitais. No entanto, nove prefeituras não responderam.
Fonte: O Globo
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