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Estudo mostra que o glúten não causa sintomas gastrointestinais em pessoas saudáveis

Ingerir alimentos com glúten não causa sintomas gastrointestinais em pessoas sem alguma patologia relacionada ao glúten, mostra um estudo duplo-cego, randomizado e controlado publicado na edição de setembro do periódico Gastroenterology.

“Esse é o primeiro estudo duplo-cego, randomizado e controlado a demonstrar que o consumo de farinha com glúten não causou sintomas em voluntários saudáveis”, escreveram Dr. Iain David Croall, Ph.D., da Academic Unit of Radiology, University of Sheffield, no Reino Unido, e colaboradores.

“Nossos resultados sustentam a ideia de que o glúten não causa sintomas em pessoas sem alguma susceptibilidade fisiológica, ou seja, a maioria da população”, escreveram.

O Dr. Benjamin Lebwohl, médico e diretor de pesquisa clínica do Celiac Disease Center na Columbia University, nos Estados Unidos, enfatizou ao Medscape que “este estudo bem feito aborda a disseminada percepção de que o glúten não é saudável para a população em geral, mesmo entre as pessoas sem doença celíaca ou sensibilidade não celíaca ao glúten”.

Embora o glúten seja seguro para ser consumido por pessoas sem sensibilidade a ele, a opinião de algumas celebridades e atletas “cultivou” a percepção de que uma alimentação sem glúten é mais saudável, sugerem os autores.

Assim, uma pesquisa de mercado mostrou que 44% dos norte-americanos compram alimentos sem glúten por razões outras que a sensibilidade ao glúten, e que 65% acreditam que uma alimentação sem glúten é mais saudável, de acordo com os pesquisadores.

Devido à necessidade de diferenciar as pessoas que se beneficiam da alimentação sem glúten das pessoas que não se beneficiam, Dr. Iain e colaboradores conduziram seu estudo para determinar como o glúten afeta voluntários saudáveis.

A pesquisa

O estudo teve 28 participantes (21 eram mulheres; 75%) com uma média de idade de 38 anos. Todos fizeram sorologia para detectar doença celíaca.

Cada grupo participou de duas sessões de estudo em sua comunidade e ambos os grupos foram educados por um especialista em nutrição sobre uma alimentação sem glúten.

Os participantes foram instruídos a realizar uma alimentação sem glúten por duas semanas e a preencher a Gastrointestinal Symptom Rating Scale (GRSR) para mensurar sintomas como dor abdominal, refluxo, indigestão, diarreia e constipação ao início do estudo. Uma escala visual analógica também foi usada para mensurar a “fadiga global”.

A seguir, os pesquisadores dividiram os participantes aleatoriamente para adicionar sachês de farinha com ou sem glúten à comida duas vezes ao dia por duas semanas. Os voluntários no grupo do glúten receberam 14 gramas de proteína do glúten por dia; todos os participantes mantiveram a alimentação sem glúten durante este período.

Ao final do estudo, os participantes preencheram novamente a GRSR.

De acordo com os autores, as pontuações médias de sintomas diminuíram no grupo do glúten (sugerindo melhora sintomática) ao final do estudo, com apenas um participante do grupo do glúten relatando a piora de alguns sintomas e melhora de outros.

Não houve diferença significativa entre os grupos em relação a mudanças em nenhum dos sintomas (dor abdominal: média de desvio padrão, DP, da intervenção/controle = – 0,36 [1,95]/ – 0,29 [1,49]; P = 0,914; ETA² parcial = 0,000; intervalo de confiança, IC, de 95%, de 1,42 a 1,28).

No entanto, a pontuação de diarreia na GRSR diminuiu significativamente em participantes do grupo do glúten (média de DP do início do estudo/acompanhamento = 2,71 [1,94]/1,64 [0,92]; P = 0,033). Este provavelmente foi um resultado anômalo, observaram os autores.

Nenhuma outra análise entre os grupos foi significativa.

Os autores reconheceram algumas limitações do estudo, como a curta duração e a possibilidade de o estudo ter inadvertidamente atraído participantes com sensibilidade ao glúten não-celíaca ou síndrome do intestino irritável.

“Como a alimentação sem glúten não apenas é considerada tão saudável como a ‘normal’, possivelmente existe alguma justificativa clínica em desmotivar ativamente as pessoas que não apresentam alguma sensibilidade diagnosticável e pretendem parar de consumir glúten”, concluíram Dr. Iain e colaboradores.

Uma ressalva

A ausência de efeito do glúten nesses participantes sugere que o glúten não causa sintomas gastrointestinais na maioria das pessoas, disse o Dr. Benjamin.

“Uma ressalva importante é que, durante o recrutamento, esses cientistas identificaram (e excluíram) duas pessoas com possível doença celíaca nos exames iniciais.”

Assim, apesar do aumento da conscientização sobre a doença celíaca e o glúten, “ainda existem pessoas com doença celíaca não diagnosticada, e o glúten provavelmente causa dano neste grupo”, ele acrescentou.

“Então, se existe uma preocupação, as pessoas deveriam ser testadas para doença celíaca antes de iniciar uma alimentação sem glúten”, disse o Dr. Benjamin.

Para as pessoas que não têm doença celíaca e ainda assim relatam sintomas após ingerir glúten, ele ofereceu algumas possíveis explicações.

“Algumas pessoas têm sensibilidade não celíaca ao glúten”, ele explicou, “outras apresentam uma síndrome do intestino irritável que responde bem à restrição ao glúten e, em algumas, ainda existe a possibilidade de ser uma reação que não vai durar no longo prazo”.

Esse estudo recebeu apoio de fundos de pesquisa de David S. Sanders. Os autores informaram não ter relações financeiras relevantes. O Dr. Benjamin informou ser consultor da Takeda e da Innovate Pharmaceuticals.

Gastroenterology. 2019;157:881-883. Texto completo

Fonte: Medscape

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