Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) identificou que 63% das pessoas que consomem drogas em festas e festivais de música pelo Brasil podem não saber com exatidão o que estão usando.
A conclusão faz parte de uma pesquisa do "Projeto Baco", que neste ano firmou uma parceria com a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), do Ministério da Justiça, para mapear novas substâncias psicoativas em circulação no país.
Por 16 meses, pesquisadores visitaram 13 eventos diferentes coletando saliva de voluntários, que também precisaram responder um questionário informando o que haviam usado. O resultado chama a atenção para diversos pontos, como a mistura de substâncias.
Confira, abaixo, os achados do estudo
🧪 Nem todos sabem o que estão usando: em 63% dos casos, a amostra tinha pelo menos uma substância que não correspondia com o que foi informado pelos voluntários. Um exemplo disso é que, em um dos casos, embora o participante tenha relatado o consumo de LSD, a substância não foi identificada no exame – no lugar, havia outras três drogas psicodélicas.
💊 Drogas misturadas: 79,9% das amostras tinham duas ou mais substâncias psicoativas. Nos festivais de música eletrônica a mistura era ainda mais comum – em 27,3% havia três e em 24,7% havia quatro; nas festas, 44,2% tinham duas e 27,3% tinham apenas uma.
🔬 Cocaína adulterada: das 16 amostras com cocaína coletadas em festas, 53,3% também levavam levamisol, um remédio para tratar verminose em humanos e animais; nas festas de música eletrônica, isso ocorreu em 69,3% dos casos e também foram identificadas misturas com antidepressivos.
🚩 Dado alarmante: O estudo é o primeiro a rastrear o consumo de novas substâncias psicoativas no Brasil, o que inclui as drogas K. Ao serem questionados, apenas 5% dos voluntários reportaram o uso, mas a análise mostrou que o índice era maior: esse tipo de entorpecente foi achado em 39,2% das amostras.
⚠️ Vale destacar: a pesquisa leva em consideração que o voluntário pode ter decidido não reportar a substância com precisão, seja porque não se lembrou, por não saber, entre outras razões.
Ao todo, 462 amostras foram coletadas entre setembro de 2018 e janeiro de 2020, sendo uma metade em festas e a outra em festivais de música eletrônica. Os voluntários tinham de 18 a 51 anos, sendo que a maioria tinha 25. Cerca de 55,4% eram homens, 32,3% tinham ensino superior e 88,5% confirmaram o uso de substâncias psicoativas nos três meses anteriores. Projeto Baco Com um nome que faz referência ao deus grego do vinho e das festas, o projeto nasceu de uma pesquisa de doutorado desenvolvida por Kelly Francisco da Cunha. Durante o trabalho, a equipe visitou festas e festivais em diferentes estados coletando fluidos orais dos voluntários para análise. Os pesquisadores voltaram a campo em setembro de 2023 como uma iniciativa apoiada pelo Governo Federal. A expectativa é, com os resultados, apoiar a criação de novos protocolos de atendimento e tratamento de pacientes em casos de intoxicação.
De acordo com o Senad, a iniciativa contribui para o desenvolvimento de um sistema de informação que vai registrar e monitorar intoxicações causadas por drogas de abuso, identificando tendências nos atendimentos de emergência relacionados a essas drogas.
Fonte: G1
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