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Ensaio clínico chinês de prevenção à obesidade mira em crianças de seis anos

Um esquema de prevenção da obesidade reduz significativamente o índice de massa corporal (IMC) ao lidar com crianças do ensino fundamental e seus familiares – principalmente os avós – mostram os resultados de um dos maiores ensaios clínicos de prevenção da obesidade infantil do mundo.

Conhecido como Chinese Primary School Children Physical Activity and Dietary Behavior Changes Intervention (Chirpy Dragon), o ensaio clínico controlado randomizado é o primeiro a colocar os avós no centro da prevenção da obesidade e é o resultado final de uma década de trabalho analisando o impacto cultural e comportamental dos avós no peso corporal das crianças na China.

A Dra. Bai Li, médica, que atualmente trabalha na University of Bristol, no Reino Unido, conduziu o estudo na cidade de Guangzhou.

“Esse programa de intervenção sobre obesidade baseado em evidências aplicado pela escola e pela família, teve um alto nível de adesão e envolvimento dos participantes, e pode ser eficaz na redução da epidemia emergente de obesidade infantil na China”, ressaltou ela.

Após um ano, o escore zBMI (um IMC de peso relativo ajustado para idade e sexo da criança) foi significativamente menor no grupo da intervenção do que no grupo de controle, com uma diferença média entre os grupos de – 0,13.

“A mais recente revisão da Cochrane sobre os programas de prevenção da obesidade infantil em todo o mundo mostra que o tamanho médio dos efeitos combinados em todas as intervenções direcionadas à mesma faixa etária é de -0,05, mas nossos resultados são duas vezes maiores”, disse a Dra. Bai, explicando o significado prático da descoberta.

Ela acrescentou que o programa também teve uma boa relação custo-benefício, como mostra a análise de custo-efetividade que também foi realizada.

O estudo foi publicado on–line em 26 de novembro no periódico PLoS Medicine.

Aumento sem precedentes do peso corporal na infância

Atualmente, existem cerca de 30 milhões de crianças e adolescentes de 7 a 18 anos com sobrepeso ou obesidade na China, número equivalente a um quinto da população infantil mundial com sobrepeso ou obesidade. Sem programas eficazes de prevenção, estima-se que esse número aumente para cerca de 50 milhões até 2030.

A Dra. Bai explicou ao Medscape que a velocidade do aumento é o que mais a preocupa. “Na década de 80, menos de 1% das crianças estavam com sobrepeso, agora 30% apresentam sobrepeso nas regiões mais ricas da China. A velocidade do aumento é uma grande preocupação”.

A rápida escalada na prevalência, combinada com a falta de pesquisas cientificamente robustas nesse campo na China, motivou a Dra. Bai a iniciar o Chirpy Dragon. A pesquisadora está particularmente interessada nas barreiras culturais e fatores determinantes do rápido crescimento do problema de obesidade no país.

“Os genes não mudaram, mas o ambiente mudou. Com relação à assistência às crianças, os avós são importantes em todo o mundo, mas na China é comum ver três gerações vivendo em uma casa e tendo uma influência direta na dieta e nutrição”, explicou ela.

A geração mais velha hoje, cresceu em um período de escassez alimentar, o que formou o entendimento deles sobre o que constitui uma dieta e peso saudáveis, acrescentou.

“Agora, essa geração se vê vivendo em uma época de renda disponível e dieta ocidental, e muitos avós acreditam que quanto maior, mais saudável a criança está, e que o sobrepeso ou a obesidade é um sinal de riqueza”, explicou a Dra. Bai

Intervenção Chirpy Dragon para crianças, pais e avós

O estudo controlado randomizado de 12 meses teve como objetivo a prevenção, não o tratamento, e promoveu atividade física e hábitos alimentares saudáveis. O ensaio clínico contou com 1.641 crianças de seis anos de idade de 40 escolas de Guangzhou. Vinte escolas (832 crianças) foram designadas para a intervenção e 20 escolas (809 crianças) para o tratamento padrão.

Quatro componentes escolares e familiares focaram nas crianças, em seus principais ou responsáveis (mãe, pai, avós ou outro responsável), bem como os responsáveis por atividades físicas e pela alimentação das crianças nas escolas.

As intervenções foram adaptadas ao grupo-alvo. “Colocamos ingredientes crus na frente dos pais e avós e depois perguntamos como eles planejavam e balanceavam uma refeição saudável”, explicou a Dra. Bai.

“Para as escolas, nós trabalhamos com os fornecedores locais das refeições para determinar o que era viável de acordo com a estação do ano e o custo envolvido. Também queríamos criar oportunidades para atividades físicas sem a necessidade de equipamentos especiais”, ela afirmou.

A equipe da Chirpy Dragon fez a intervenção e os diretores e professores das escolas receberam um manual do programa.

As escolas designadas para o braço de controle continuaram com suas práticas habituais durante todo o período do estudo e não tiveram acesso a nenhuma das atividades ou recursos de intervenção do Chirpy Dragon.

Foram feitas medições cegas, que incluíram o escore de zBMI no começo do estudo (ingresso na escola, idade de seis a sete anos) e novamente no final da intervenção (após 12 meses).

Resultados positivos em todos os desfechos

O desfecho primário para a eficácia clínica foi a diferença nos escores de zBMI entre os grupos no término do estudo.

Entre os desfechos secundários estavam a proporção de crianças com sobrepeso ou obesidade, tempo gasto em atividade física, consumo de frutas e vegetais e lanches pouco saudáveis, além de efeitos psicossociais mais amplos, compostos de qualidade de vida relacionada com saúde e aceitação social.

A taxa de evasão dos participantes foi muito baixa, de 3%, e nenhuma escola abandonou o estudo.

No final da intervenção, a pontuação média no zBMI foi significativamente menor no grupo da intervenção comparado ao grupo de controle (diferença média de -0,13; P = 0,048).

Para os desfechos secundários, a proporção de crianças consumindo pelo menos cinco porções diárias de frutas e vegetais foi significativamente maior no grupo da intervenção do que no de controle (diferença média de 0,33; P = 0,001).

O consumo semanal de bebidas açucaradas e lanches pouco saudáveis foi significativamente menor no grupo da intervenção do que no grupo de controle (diferença média de – 0,81; P = 0,010) e a proporção de crianças praticando atividade física pelo menos uma vez aos finais de semana foi maior no grupo da intervenção versus no grupo de controle (razão de chances ou odds ratio de 1,58; P < 0,001).

Uma análise de subgrupo pré-especificado constatou que o efeito da intervenção nas medidas antropométricas foi mais acentuado nas meninas em comparação com os meninos. A diferença média no escore do zBMI entre meninas versus meninos foi de – 0,18 (P = 0,007) vs. – 0,09 (P = 0,22).

Por que os resultados foram tão impressionantes?

Convidada a comentar o porquê de achados tão positivos, a Dra. Bai disse que vários fatores podem estar em jogo.

Ela fez uma comparação com um recente estudo semelhante no Reino Unido, que, por outro lado, praticamente não teve impacto.

“Nós acreditamos que a diferença esteja parcialmente relacionada com o estágio da epidemia na China. É relativamente precoce em comparação com a epidemia nos países do Reino Unido ou nos Estados Unidos. Isso significa que os hábitos alimentares pouco saudáveis relacionados com a dieta ocidentalizada ainda não se tornaram o normal”, disse ela.

Ela também destacou motivos sociais e culturais: “Quando ensinamos as pessoas sobre os benefícios para a saúde de uma alimentação diferente, é mais provável que elas mudem a alimentação na China. No Reino Unido, tentar ensinar que uma alimentação ocidental não saudável é mais difícil porque é algo muito normal agora.”

A Dra. Bai mencionou que a aceitação do programa Chirpy Dragon foi excelente, possivelmente porque foi fortemente apoiada pelo governo e “na China, os alunos realmente respeitam seus professores, portanto, o envolvimento e a aceitação são muito bons. Esses são os motivos pelos quais acreditamos que o resultado foi tão impressionante”.

Em relação à generalização do programa chinês para outras áreas urbanas e países, inicialmente, o programa é mais generalizável para países que compartilham uma cultura semelhante, disse a Dra. Bai.

“Seguindo em frente, nossos planos devem focar na transferibilidade da intervenção, inicialmente para outras partes da China e depois para Cingapura e Malásia”, disse a Dra Li.

Fonte: Medscape

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