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Enfermeira vira "mãe provisória" ao acolher crianças em SP: 'Gratificante'



Uma família em Santos, no litoral de São Paulo, decidiu abrir as portas de sua casa para crianças que estejam impedidas pela Justiça de ficar com seus pais biológicos e necessitem de acolhimento provisório. Em entrevista ao G1, a enfermeira Nivia Lima Barreto, de 55 anos, relatou como é a rotina de ser uma ‘mãe provisória’ desses bebês.


"Minha vida seria muito pacata sem as crianças acolhidas. Cada vez que elas vão embora é um vazio. Elas unem a gente", diz a enfermeira. "Aqui em casa nós nos unimos para cuidar, brincar com os bebês, fazemos programas em conjunto. Eles trazem isso pra gente".

Pela casa de Nivia, já passaram dez crianças em um período de cinco anos. A maioria fica de três a seis meses, mas há casos em que é necessário ficar mais tempo. Um quarto foi montado com berço e brinquedos que todos usam. Quando vão embora, eles levam um deles, mas deixam muito mais: a sensação de dever cumprido e que, naquele momento difícil, receberam amor e cuidados especiais.

A família da enfermeira é cadastrada no programa Família Acolhedora, da Prefeitura de Santos, que beneficia bebês, crianças e adolescentes afastados da família por medida de proteção e as encaminha para famílias que estejam dispostas a oferecer o acolhimento provisório. "Eu me inscrevi no programa porque sempre gostei de criança", diz. "Eu era voluntária em uma instituição de São Vicente, cuidava das crianças nos finais de semana e nas férias, mas sentia que poderia fazer mais, dar mais carinho." A primeira experiência dela e da família veio pouco tempo depois do cadastro, com o acolhimento de uma bebê recém nascida. "Ela tinha nascido prematura e precisava de cuidados especiais. Sou enfermeira e, por isso, acabou vindo para cá", conta. "Foi muito gratificante, porque a gente aprende muito a cada dia."

Mas as crianças que mais marcaram Nivia, de acordo com ela, vieram mais tarde. A primeira tinha apenas dois anos e a enfermeira conta que auxiliou no retorno para a mãe biológica. "Foi muito difícil. Entre outras circunstâncias, a mãe tinha transtorno obsessivo-compulsivo e o filho hiperatividade. Ela não sabia lidar com a criança", conta.

"A criança apanhava e, depois, recebia presentes. Era o jeito dela lidar com a situação", diz. Assim que chegou na casa de Nivia, ela levou o menino para tomar banho e, conforme relatou, teve problemas com o Conselho Tutelar. "Ele começava a gritar, a berrar pedindo socorro. Dizia que ia morrer todas as vezes que dávamos banho nele. Alguém fez uma denúncia anônima e o conselho apareceu na minha casa. Tive que provar que estava tudo bem."

As complicações não pararam por aí. "A criança também dormia mal, tinha o sono bem leve. Ele acordava e andava pela casa toda, eu ficava muito preocupada, com medo dele se machucar", relembra Nivia. Mesmo com as dificuldades de convivência, a 'devolução' da criança pelo programa nunca foi opção. "Eu não ia devolver ele, senão ele iria para um abrigo. Fiquei desesperada." A melhora veio através do filho de Nivia, de 30 anos, que agiu como um 'pai' do menino. "Meu filho começou a trabalhar com ele, a conversar, a dar muita atenção. Ele melhorou muito", diz. Enquanto isso, a mãe fazia tratamento e, aos poucos, a conexão entre os dois foi sendo restabelecida. "Nós cuidamos da mãe, também, porque ela não conhecia carinho, foi criada nas ruas. Conseguimos trabalhar não só o bebê, como também com a mãe dele. Hoje, eles estão muito bem juntos." Até hoje, de acordo com Nivia, o filho é chamado para as festas e comemorações escolares desse menino. "Quando tem algo que chamem os pais, ele faz questão que meu filho compareça", conta.

Outro caso marcante para Nivia foi de uma bebê soropositivo que acolheu. "Quando recebemos a criança para acolhimento, recebemos algumas informações sobre o histórico dela. O bebê contraiu o vírus pela amamentação", relata. "Duvidei muito de mim, não sabia se conseguiria cuidar da criança", confessa. "Procurei especialistas, consegui orientação e aprendi a lidar com isso", explica. "Consegui cuidar dele, do jeito que era pra ser. Ele conseguiu ser adotado e isso é muito gratificante." Família Acolhedora Implementado em Santos em 2005, o programa beneficia bebês, crianças e adolescentes afastados da família por medida de proteção. "O nosso objetivo é tentar reintegrar essa criança à família de origem. Caso não tenha condições, aí sim a última alternativa é a adoção", explica a assistente social Lilian Reis dos Santos.

A iniciativa, que atualmente conta com 10 famílias cadastradas, evita que as crianças tenham que ir para um abrigo. O programa é voltado exclusivamente a pessoas que não tenham interesse em adotar.

Para se cadastrar, é preciso atender aos seguintes requisitos: morar em Santos; ter mais de 18 anos; não ter interesse em adoção; não ser dependente de álcool e outras drogas; não passar por dificuldades financeiras; não ter doença incapacitante; apresentar condições favoráveis de moradia e todos os integrantes da família aceitem o acolhimento.

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