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Em documentário, médico que sobreviveu a grave acidente fala de resiliência com pacientes terminais



O médico norte-americano BJ Miller tinha 19 anos e era um estudante em 1990 quando fez uma molecagem de consequências desproporcionais. Ao lado de colegas, por farra, subiu no teto de um trem estacionado perto do campus da Universidade de Princeton, nos EUA. Cabos da composição foram atraídos pelo relógio de pulso e um choque de 11.000 volts atingiu seu corpo. Miller perdeu as duas pernas e um braço no acidente.


Entre o trauma e a reconstrução de vida, ele se voltou para a medicina de cuidados paliativos e hoje é um nome de destaque em um campo que envolve decisões difíceis: pacientes terminais. Sua experiência - pessoal e profissional - de proximidade com a morte levou BJ Miller a aparecer em uma TED Talk e no documentário "Partida final" (2018), indicado ao Oscar.

Ele participará neste domingo (4) de um debate ao lado da médica paliativista Ana Claudia Quintana no festival on-line Infinito. Num ano singularmente marcado pela morte, Miller diz ao G1 que "todos nós estamos passando por algo que se assemelha a uma crise existencial". A pandemia de Covid-19 forçou um olhar mais profundo no tema da perda e da própria mortalidade.

"Minha sensação é que a dor é tão profunda e difusa o suficiente de forma que todos nós seremos afetados de alguma forma. Em outras palavras, não há como simplesmente prender a respiração e esperar tudo isso passar. Minha esperança é que as pessoas entrem em uma relação diferente com o fato de que vamos morrer e o tempo sempre é precioso", disse. Sofrimento compartilhado Na TED Talk que fez sucesso, o médico norte-americano define a figura do paciente como "alguém que sofre". "Acredito, então, que todos sejamos pacientes", dizia ele na apresentação. Como desdobramento disso, explora o conceito de compaixão - que é, literalmente, compartilhar o sofrimento de uma outra pessoa - e enxerga na troca pessoal uma saída para aliviar os tormentos pessoais.

"Alguns dos momentos mais fortes e profundos que vivenciei foi dividir vulnerabilidades com alguém. É isso que nos conecta como seres humanos", afirma Miller. "Não sou um homem religioso, mas tenho fé no poder da compaixão e da bondade. Uma hora todo mundo precisa disso."

Na prática e no calor do dia a dia, admite o médico, as relações humanas encontram dificuldades que parecem intransponíveis e é fácil ficar cínico frente a palavras como compaixão e bondade.

"Eu não culpo as pessoas por não encontrarem um caminho até desenvolver compaixão. É realmente bem, bem complicado. Mas parte desse processo para desenvolver essa habilidade é conseguir olhar para si mesmo. Eu tenho plena consciência de que já fui babaca ["asshole"] na vida e que eu tenho traços muito irritantes. Saber expressar compaixão a outros passa por olhar para você mesmo e tentar entender as merdas que você é capaz de fazer. Sim, você às vezes é um grande idiota. É parte do processo", afirma.

"Ter capacidade de enxergar a dor passa por perceber como infligimos dor em outras pessoas e em nós mesmos. Assim dá para ver o todo." Imagem pública Com rosto de galã de seriado de TV, uma história de vida impressionante e a habilidade destacada de lidar com situações delicadas e difíceis, BJ Miller tem ganhado notoriedade na mídia e vê formada uma imagem de resiliência e equilíbrio para o público. Mas ele trata de desfazer mitificações.

"Quando alguém me vê como alguém de trajetória heroica, eu tento convencer que eu sou uma pessoa normal. Na minha vida pessoal, eu estou o tempo todo escorregando no cinismo ou até na depressão. Estou OK com isso, tenho orgulho até. Nós somos criaturas frágeis e o mundo é um lugar difícil. Para mim a resiliência vem da habilidade de acessar tanto tristeza quanto alegria. Eu posso ir em várias direções diferentes porque existe uma agilidade de se movimentar entre emoções", diz.

"Eu estou em paz com esses sentimentos, esses sentimentos difíceis. Eu não deixo isso de fora da minha vida. Estou sempre à beira de desabar, mas eu gosto disso. É um terreno muito fértil para mim. É um terreno que me permite ter empatia com todo mundo, a qualquer momento."


Fonte: G1

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