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Dores terríveis, convulsões e morte: quais os riscos para quem transporta drogas no estômago ou reto



No esquema de tráfico internacional de drogas, uma tática comum para tentar driblar a fiscalização dos aeroportos é o uso das chamadas "mulas": pessoas que transportam entorpecentes dentro do próprio corpo, para entregarem o material a traficantes de outro país.


Engolir cápsulas de cocaína, por exemplo, ou colocá-las na vagina e no reto são técnicas altamente arriscadas para a saúde — podem provocar convulsões, desmaios por dor, intoxicação, rompimento de órgãos e morte (leia mais abaixo o que acontece no corpo humano nessas situações).

📈 Contexto: Em São Paulo, nesta quinta-feira (23), um homem foi preso por treinar mais de 30 "mulas" que engoliriam drogas e as levariam para a Europa. Na última semana, em 14 de novembro, seis passageiros nigerianos também foram detidos após serem flagrados com cápsulas de cocaína no estômago no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. ⭕ Quais as técnicas (de risco) para inserção da droga no corpo? Paula Carpes Victório, farmacêutica e mestre em toxicologia pela Universidade de São Paulo (USP), explica que a droga é, em geral, envolta em um material plástico — em várias cápsulas ou saquinhos pequenos. Esses invólucros são:

  • engolidos, aos poucos, para que fiquem no estômago durante a viagem;

  • inseridos na vagina

  • ou colocados no reto.

⭕ Pode haver rompimento das cápsulas? Sim, é comum que as cápsulas estourem.

➡️ Nosso estômago secreta ácido clorídrico (HCl) para digerir os alimentos que comemos. "É muito forte e deixa o pH extremamente baixo", afirma Victório. "Quando mascamos um chiclete, por exemplo, o organismo entende que vamos nos alimentar e libera mais ácido para a digestão. No caso das cápsulas, o mesmo acontece: o HCl é excretado e provavelmente vai corroer o plástico que envolve a droga." ➡️ Na vagina, o pH é ácido (menos do que o do estômago). No intestino, é alcalino, mas também apresenta potencial corrosivo. O risco de rompimento da cápsula, nos dois casos, é reduzido, mas existe. E há outro alerta: "São partes do corpo que naturalmente contraímos, seja em um susto, ao andar ou ao sentar. Isso pode fazer com que os invólucros estourem e ainda levem a uma lesão. O plástico é duro; é terrível", diz a toxicologista. ⭕ O que acontece se a cápsula com as drogas estourar? Se o plástico que envolve a droga for rompido, uma quantidade enorme de entorpecentes vai ser liberada no organismo.

"A substância será absorvida pela mucosa [do estômago, da vagina ou do reto], que é irrigada por vasos sanguíneos. A droga entrará em contato com as células e chegará ao sistema circulatório", afirma Victório.

Os sintomas da overdose variam de acordo com o tipo de substância. "A pessoa pode ter convulsões, hemorragia ou até morrer instantaneamente", esclarece a especialista. ⭕ E se a cápsula não romper? Há algum risco ainda assim? Sim. A "mula" pode ter:

  • dores fortíssimas no estômago, causando desmaios;

  • vômito;

  • sangramento por lesões nos órgãos;

  • cólicas que farão com que ela caia no chão no meio do aeroporto, por exemplo.

⭕ Quais os tratamentos possíveis? Segundo a especialista, o procedimento de retirada dos pacotes/pinos vai depender do quadro do paciente. Pode envolver:

  • lavagem hospitalar estomacal e intestinal;

  • retirada por endoscopia;

  • uso de carvão ativado, para controlar a chegada da droga ao sangue;

  • remoção manual via vagina ou ânus;

  • cirurgia imediata, de alto risco, quando o estômago ou outro órgão já foi perfurado.

A probabilidade de o paciente morrer antes dos procedimentos ou durante esses processos é significativa. "Não é só um problema individual. É social. Temos casos de mulheres que se submetem a trabalhar como 'mulas' para sustentar as crianças, morrem e acabam deixando os filhos sozinhos", afirma Victório. Fonte: G1

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