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Diabetes: recuperar o peso após uma grande perda ponderal pode trazer prejuízos

Pessoas com diabetes tipo 2 que conseguiram manter a perda ponderal após uma grande intervenção no estilo de vida apresentaram benefícios duradouros em relação aos fatores de risco cardiometabólicos, mas as que recuperaram o peso não apenas perderam os benefícios como podem ter piorado o seu perfil metabólico, disseram pesquisadores norte-americanos.

Em uma nova análise dos dados do ensaio clínico Action for Health in Diabetes (Look AHEAD), a Dra. Samantha E. Berger, Ph.D., da Tufts University, nos Estados Unidos, e colaboradores avaliaram quase 1.600 indivíduos que passaram por uma grande intervenção no estilo de vida.

Especialmente dentre os participantes que perderam pelo menos 10% do peso corporal logo de cara, sustentar a perda ponderal por mais de quatro anos levou a melhora significativa nos níveis de colesterol, glicemia e pressão arterial, entre outros parâmetros, em comparação com aqueles que recuperaram o peso.

A pesquisa publicada em 09 de outubro no periódico Journal of the American Heart Association também indica que pessoas que ganharam peso ainda poderiam ter benefícios cardiometabólicos, desde que não tivessem recuperado mais do que 25% do total de peso perdido.

Por isso, “manter 75% da perda ponderal geralmente é benéfico”, concluíram os pesquisadores.

“Essas descobertas ressaltam a dupla importância de não apenas alcançar um peso corporal saudável, mas também de mantê-lo”, afirmou em um comunicado à imprensa da American Heart Association (AHA), a autora sênior Dra. Alice H. Lichtenstein, diretora do Cardiovascular Nutrition Laboratory do Human Nutrition Research Center on Aging da Tufts University.

E, embora a diretora tenha reconhecido que não voltar a engordar pode ser “um desafio”, ela também advertiu: “Se você perde peso e o recupera, os benefícios diminuem ou desaparecem.”

Ênfase na manutenção

A Dra. Alice disse ao Medscape que, em geral, “as pessoas entendem que precisam emagrecer”. No entanto, “muitas vezes elas fazem dietas exageradas e conseguem perder peso, mas parece que nós não estamos deixando claro que é crucial não recuperar o peso”, afirmou.

“Pode parecer fantástico” quando as pessoas perdem peso rapidamente, mas “os benefícios metabólicos não são obtidos a menos que as mudanças na alimentação diária ou na maneira a ingestão de energia é equilibrada sejam sustentáveis”.

Isso significa manter as mudanças no estilo de vida “essencialmente por toda a vida” para as pessoas “voltarem a ter equilíbrio”.

Os programas de perda ponderal, acrescentou a Dra. Alice, “terão de colocar muito mais ênfase no que acontece depois que alguém consegue perder peso, e não apenas em comemorar esse feito”.

Comparando “manutenção” e “recuperação”

No artigo em pauta, os pesquisadores dizem que poucos estudos compararam diretamente pessoas que conseguem manter a perda ponderal (manutenção) com pessoas que recuperaram o peso inicial (recuperação).

Além disso, o impacto da recuperação do peso nos fatores de risco cardiometabólicos “não está bem estabelecido”.

Em uma parte do ensaio controlado randomizado Look AHEAD, caso os pacientes diagnosticados com diabetes tipo 2 que tinham um índice de massa corporal (IMC) > 25 kg/m2 fizessem uso de insulina, eles foram distribuídos para uma grande intervenção no estilo de vida para perda ponderal ou para o cuidado padrão.

A intervenção durou um ano e teve sessões de grupo de apoio, restrição de ingestão de gordura, recomendações de substituição de refeições e de atividade física, com o objetivo de perder aproximadamente 7% do peso corporal.

Em seguida, os participantes – recrutados em 16 locais nos Estados Unidos – passaram para uma fase de manutenção de três anos.

Para a análise atual, os pesquisadores se concentraram em 1.561 indivíduos do estudo que foram designados para o grupo intervenção, que haviam perdido pelo menos 3% do peso corporal inicialmente e tinham dados de acompanhamento até o final do quarto ano.

Dentro desses grupos, os participantes foram classificados com base no peso recuperado após a perda ponderal inicial.

Aqueles que não recuperaram peso algum (0%) foram denominados “manutenção” e os demais foram denominados “recuperação”. A quantidade de peso recuperada foi dividida em quatro incrementos: 25%, 50%, 75% e 100% da porcentagem de perda de peso recuperada (alteração do peso do primeiro ao quarto ano como porcentagem do primeiro ano de perda ponderal).

A mudança nos fatores de risco cardiometabólicos após a perda inicial foi comparada nos dois grupos, após o ajuste para dados demográficos, medicamentos e mudança do IMC no início do estudo e ao final do primeiro ano.

O efeito também foi avaliado separadamente em participantes com < 10% de perda ponderal e ≥ 10% de perda inicial.

Como esperado, os indivíduos que perderam mais peso logo tiveram uma probabilidade significativamente maior de melhorar os fatores de risco cardiometabólico no primeiro ano do que outros participantes; esses pacientes também tiveram uma probabilidade significativamente menor de iniciar o uso medicamentos para tratar diabetes e hipertensão arterial sistêmica, e uma probabilidade significativamente maior de interrupção do uso durante o acompanhamento.

Para os que perderam ≥ 10% do peso, tente evitar a zona dos 75%

Entre aqueles que perderam ≥ 10% do peso inicial, os resultados na maioria dos fatores de risco indicaram redução máxima do fator de risco no grupo manutenção que mantiveram com sucesso 100% do peso perdido.

A manutenção bem-sucedida da maior parte (≥ 75%) da perda ponderal (25% de ganho como ponto de corte) também foi associada a benefícios duradouros em relação aos fatores de risco.

Por outro lado, no grupo recuperação foi observada uma deterioração significativa em relação à alguns fatores de risco cardiometabólicos a partir do ano um ao quatro.

Enquanto isso, “para os que perderam < 10% do peso inicial, mantê-lo é melhor do que recuperá-lo, mas parece que o grau de manutenção da perda ponderal tem pouco impacto nos fatores de risco cardiometabólicos”, disseram os pesquisadores.

No geral, os resultados destacam a importância de programas de intervenção com foco não apenas na perda ponderal, mas também na manutenção da perda, “dadas as consequências adversas de recuperar o peso”, enfatizaram os autores.

“O importante é que, uma vez que você conseguiu perder peso, esforce-se muito para mantê-lo”, disse a Dra. Alice ao Medscape.

Além disso, os pesquisadores destacaram a grande necessidade de mais pesquisas nessa área.

“As descobertas deste estudo reforçam a necessidade de se estudar mais o impacto, em longo prazo, da recuperação parcial do peso após uma intervenção para perdê-lo, dada a dificuldade de manutenção do peso”, escreveram.

O estudo Look AHEAD foi conduzido pelo Look AHEAD Research Group e apoiado pelo National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases; National Heart, Lung, and Blood Institute; National Institute of Nursing Research; National Institute of Minority Health and Health Disparities; Office of Research on Women’s Health; e Centers for Disease Control and Prevention.

Fonte: Medscape

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