De acordo com os dados divulgados pela Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé (ABTPé), de janeiro a agosto deste ano foram realizadas 10.546 amputações de membros inferiores, pelo SUS (Sistema Único de Saúde), em decorrência de diabetes não controlada – uma média de 43 por dia – ao custo estimado de R$ 12,3 milhões. No mesmo período de 2019, foram 10.019 registros, que custaram R$ 11,6 milhões. Isso acontece porque a doença pode prejudicar também o sistema circulatório. O médico angiologista Almar Bastos, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular do Rio de Janeiro (SBACV-RJ), explica.
– O paciente portador do diabetes apresenta uma predisposição a fazer placa de aterosclerose nas paredes dos vasos sanguíneos. Esse acúmulo de gordura nas artérias propicia problemas como infarto, AVC e oclusões das artérias, que, no pior dos casos, podem ocasionar uma amputação – destaca.
Entre os principais fatores de risco para o Covid-19, a diabetes acomete mais de 13 milhões de pessoas no Brasil, o que representa aproximadamente 7% da população. A proporção varia de acordo a faixa etária: após os 65 anos, por exemplo, essa relação chega a 19%. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, no mundo, 250 milhões de pessoas têm diabetes. A doença também é responsável pela morte de 2 milhões de mulheres por ano, sendo a nona causa de óbitos entre mulheres no mundo. A conscientização a respeito desse mal, principalmente em relação à sua prevenção e às dificuldades enfrentadas pelos pacientes, fez com que a Federação Internacional de Diabetes (IDF) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) tornassem o dia 14 de novembro o Dia Mundial do Combate à Diabetes.
A boa notícia é que acompanhamento médico, medicação adequada e mudanças no estilo de vida, especialmente em relação à alimentação, à prática de exercícios físicos e ao sono, podem levar o paciente a ter uma vida saudável, sem sofrer com problemas circulatórios ou qualquer outra consequência da diabetes.
Resumidamente, diabetes é uma doença crônica na qual o corpo não produz insulina ou não consegue aproveitar de forma eficiente a insulina que produz. A insulina é um hormônio que controla a quantidade de glicose no sangue. O corpo precisa desse hormônio para utilizar a glicose, que obtemos por meio dos alimentos, como fonte de energia. Uma pessoa que possui diabetes não fabrica ou utiliza a insulina de forma correta, e por isso, não consegue utilizar a glicose consumida adequadamente. Se esse quadro permanecer por longos períodos, poderá haver danos em órgãos, vasos sanguíneos e nervos. O problema em relação à circulação está no alto nível de açúcar, que, no portador de diabetes mal controlado, pode levar a complicações circulatórias e nos nervos, provocando dores nas extremidades e até dormência.
Complicações circulatórias mais frequentes
Dores intensas, mesmo quando o paciente não está em movimento;
Dores na panturrilha ao caminhar;
Morte dos tecidos, quando há ausência de sangue nas extremidades dos membros;
Infecções graves nos pés;
Riscos de amputação dos membros;
Pé diabético.
A diabetes tipo 2 pode ser prevenida ou, no mínimo, controlada. Apesar de a doença possuir forte fator genético, o médico Almar afirma que a prática de exercícios físicos e uma boa alimentação podem prevenir esta que é conhecida como diabetes do adulto, que sofre forte influência dos fatores ambientais, considerados fatores de risco modificáveis, diferentemente da genética. Combater a obesidade e o sedentarismo são o primeiro passo.
– A diabetes gera resistência ao hormônio da insulina; então, as células do obeso e do sedentário aderem a essa resistência e precisam de uma maior quantidade de insulina para conseguir introduzir a glicose dentro da célula, levando ao esgotamento do pâncreas, que é a origem da doença – acrescenta o especialista. Quando não há controle e a circulação é afetada, na maioria das vezes, segundo Almar, o comprometimento leve consegue melhorar através das drogas vasodilatadoras. Mas, caso haja oclusão, a única solução é um procedimento cirúrgico. Vale alertar que, segundo o especialista, a principal causa de amputação não traumática no mundo é ligada a diabetes.
– De uma maneira geral, em uma fase inicial, através de medicação é possível conseguir um melhor fluxo de sangue. As medidas cirúrgicas são tomadas apenas em casos de risco médio ou grave – destaca.
Cuidados
Usar calçados confortáveis e proteções em temperaturas baixas;
Examinar os pés frequentemente;
Cuidar de ferimentos nos pés;
Manter boa alimentação (priorizar as frutas, verduras e proteínas);
Praticar exercícios físicos;
Controlar o nível de glicose.
O impacto dos exercícios Além de alguns cuidados básicos, o fisioterapeuta Wendell Leite Bernardes, especialista em Fisiologia do Exercício, explica que, mais especificamente, o exercício físico tem como variável fisiológica a melhora da circulação sanguínea.
– Os exercícios aeróbios e os de força muscular são capazes de promover melhora da saúde vascular (principalmente, das artérias) além de estimular a angiogênese, que é a formação de novos vasos sanguíneos, consequentemente promovendo maior circulação sanguínea para os músculos – explica.
Uma das complicações mais comuns no individuo diabético é a doença cardiovascular (DCV) aterosclerótica, dentre elas, a doença arterial periférica (DAP). O fisioterapeuta explica que entre os principais sinais e sintomas desta doença estão à claudicação intermitente, redução da temperatura dos pés, redução ou ausência dos pulsos periféricos, atrofia do tecido subcutâneo e redução dos pelos.
– Desta forma, a atividade física é uma modalidade terapêutica não farmacológica fundamental para o tratamento da diabetes. Conjuntamente com modificações na dieta alimentar, constitui importante fator capaz de prevenir e controlar a diabetes tipo 2. Assim sendo, a atividade física regular tem como finalidade melhorar a tolerância à glicose, aumentar a sensibilidade insulínica, reduzir os fatores de risco para doença cardiovascular, melhorar a circulação sanguínea periférica, além de melhorar o bem-estar do individuo. A adoção de um estilo de vida mais ativo e não sedentário do individuo diabético auxilia muito a melhora da circulação sanguínea – completa.
Dentre as recomendações gerais de exercícios para melhora da circulação sanguínea nos indivíduos diabéticos, o médico cita:
Exercício aeróbio, que deve ser estimulado para uma frequência de três a cinco vezes por semana, com intensidade dentre 50 a 80% da frequência cardíaca de reserva, com tempo de estimulo entre 20 a 60 minutos enfatizando atividades que utilizem grandes grupamentos musculares de maneira rítmica e contínua;
Exercícios de força muscular por duas a três vezes por semana, com duas a três séries de oito a 12 repetições com 60 a 80% de uma repetição máxima (1RM).
Benefícios gerais dos exercícios para diabéticos:
Diminuição dos níveis de glicose sanguínea;
Diminuição da resistência insulínica;
Aumento dos estoques de glicogênio muscular;
Redução da pressão arterial sistólica;
Redução da gordura abdominal, com consequente melhora da composição corporal;
Aumento da massa muscular;
Melhora da circulação sanguínea;
Aumento do nível de atividade física diária de diabéticos;
Melhora da qualidade de vida.
Fonte: GloboEsporte