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Debilitada e com 35 kg, paciente com câncer espera há 6 meses por tratamento

Moradora do bairro Gradim, em São Gonçalo, a doméstica Janey Pereira, de 59 anos, tenta há seis meses uma vaga no Hospital Carodoso Fontes, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio. Em junho do ano passado, após uma redução acentuada no apetite, ela se submeteu a uma endoscopia – foi quando descobriu um tumor maligno no esôfago.

Janey Pereira antes da doença e hoje: menos 20 kg por causa do câncer — Foto: Reprodução/TV Globo

A Secretaria Municipal de Saúde a encaminhou para uma unidade que deveria ser referência no combate à doença – o Hospital Federal Cardoso Fontes.

O registro de Janey é de julho do ano passado e até agora, mais de seis meses depois, ela ainda não recebeu atendimento.

Apesar de já ter ido cinco vezes ao hospital, até o momento ela não conseguiu fazer nenhuma sessão de radioterapia ou quimioterapia.

A doença fez com que Janey perdesse 20 quilos – no momento, ela pesa apenas 35 quilos.

“Eu só quero começar a fazer o tratamento. Melhorar, entende? Quero voltar a trabalhar, mas está difícil. Antes eu era ativa, trabalhava fora, fazia serviços de casa e cuidava de crianças. Agora não consigo fazer nada”.

“Estamos em uma busca por um tratamento oncológico. Isso que está acontecendo com a minha mãe é um descaso do Estado”, reclamou a filha de Janey, Jamile Santos Pereira.

Marido de Janey, Paulo César Pereira lamenta como a falta de tratamento acelerou o avanço da doença.

“Há apenas seis meses, ela era uma pessoas ativa, fazia de tudo. Agora está muito debilitada. É difícil demais ver isso acontecer”.

Dona Janey — Foto: Reprodução/TV Globo

Sem médicos

Enquanto isso, no Hospital de Bonsucesso, pacientes que também têm câncer tiveram o tratamento interrompido. O motivo: o único médico responsável pelo setor entrou de licença, sem previsão para retorno.

Outrora referência no tratamento do combate ao câncer, a unidade perdeu esse status por conta da grave crise que enfrenta. Nove oncologistas cuidavam dos pacientes. Nos últimos meses, porém, quase todos pediram demissão. Atualmente, apenas um é responsável por 300 pacientes.

Por meio de nota, a unidade informou que os pacientes do setor de Oncologia estão sendo transferidos para outros hospitais. Com isso, os tratamentos foram interrompidos.

É o caso de Roni Valdo. Diagnosticado com câncer no intestino em 2019, ele foi ao hospital, onde se submeteu a uma cirurgia e sessões de quimioterapia.

“O problema é que agora isso parou. Ele e nossa família estamos muito preocupados. Ele tinha uma consulta no último dia 24 e mais uma sessão de quimioterapia dois dias depois, mas fomos informados que o médico está de licença – ele nos orientou a voltar a entrar em contato com a unidade só depois do dia 10 de março. Um paciente com câncer não pode esperar tanto tempo”, disse o irmão de Roni Valdo, Roberto Aguiar.

Ar-condicionado

No Hospital do Fundão, pacientes de radioterapia tiveram o tratamento interrompido desde o dia 23 por conta de um problema no compressor do ar-condicionado.

“Um interrupção como essa no tratamento contra o câncer tem um impacto severo. Várias vidas estão em jogo ali”, descreveu uma paciente.

Por meio de nota, a unidade informou que a peça para o conserto do ar-condicionado já está na hospital. Afirmou, ainda, que o atendimento deverá ser normalizado até a próxima semana – até lá, 20% dos pacientes, os casos mais graves ou em fim de tratamento – continuam recebendo cuidados.

Riscos

A interrupção do tratamento de pacientes com câncer é considerada gravíssima por especialistas.

“É uma situação séria e preocupante. Interrupções no tratamento de Oncologia têm um impacto muito negativo no resultado final. A aplicação de radioterapia e quimioterapia fazem parte de um protocolo que não deve ser interrompido ou mesmo atrasado”, explicou o diretor do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio (Cremerj) e cirurgião oncológico Luiz Fernando Nunes.

Segundo ele, a própria indicação desse tipo de tratamento já sinaliza a gravidade da doença.

“Em muitos casos, radioterapia e quimioterapia são as únicas alternativas de tratamento para aquele paciente”.

Fonte: G1

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