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Covid-19: vírus mata pelo menos um profissional de saúde por dia


 
 

Depois de um ano com trabalhos intensos para conter a pandemia do novo coronavírus, os dados a respeito dos profissionais de saúde no Brasil são preocupantes. Até o dia 1º de março deste ano, o Ministério da Saúde contabilizou 484.081 casos de SARS-CoV-2 entre profissionais que atuam na linha de frente e 470 óbitos, ou seja, uma morte a cada 19 horas. Estes dados estão sendo registrados desde a primeira vítima de covid-19 no país e excluem levam em consideração a semana mais grave da pandemia, registrada na primeira semana de maio.


Quando os dados se referem apenas aos profissionais de enfermagem, o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) afirma que foram registradas 648 mortes entre esta classe, sendo que entre os períodos de 1 de fevereiro e 3 de março aconteceram 115 óbitos.


De acordo com o presidente do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP), James Santos, o número de profissionais que contraíram a doença pode ser ainda maior. “Esse número ainda é subnotificado, já que dependemos da notificação da própria ao conselho e nem sempre isso acontece”, disse.


Apesar de preocupantes e indicarem mais de uma morte por dia, os dados ainda podem estar subnotificados pois no momento em que as informações do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) são obtidas, não é obrigatório o preenchimento do cargo da vítima.


'Seguimos tratando quase que no automático'


Além da preocupação com a morte e a contaminação destes importantes profissionais, a condição mental do ambiente de trabalho é outra questão que deve ser levada em conta. “Estamos exaustos. A maioria de nós sem tempo de descanso, ainda afastados dos familiares. Tem momentos que perdemos dois, três pacientes em menos de 30 minutos. Não há tempo para recuperação da equipe. Seguimos tratando quase que no automático”, contou a médica Glaucia Finotti, que atua na linha de frente da covid desde o mês de março do ano passado.


Após depoimentos como este, a Associação Médica do Brasil (AMB) realizou uma pesquisa com 3.882 médicos em 27 Estados e no Distrito Federal. O levantamento foi realizado em janeiro deste ano com o intuito de checar a percepção dos profissionais diante da pandemia.


Na pesquisa, 64% entrevistados relataram estresse; 62% disseram sentir exaustão física e emocional; 54,1% contam que se sentem mais ansiosos; 34,4% afirmaram ter dificuldade de concentração; 27% tiveram mudanças bruscas de humor e 7,9% sentiram uma sobrecarga no trabalho. Durante a pesquisa, os entrevistados podiam apontar mais de uma opção como resposta.


O presidente da AMB, César Eduardo Fernandes aponta que mesmo sendo uma pesquisa recente, a situação pode apresentar ainda mais gravidade. “Terminamos a pesquisa de meados ao fim de janeiro. Agora, certamente, a condição do profissional deve estar pior, uma vez que a pandemia se agravou no Brasil. Precisamos de ações práticas e não discursos”, contou.


O médico também desabafou sobre as condições em que os profissionais de saúde de encontram em meio a pandemia. “Estamos exaustos. Não somos nós que compramos vacinas, que formulamos políticas de saúde, que negociamos com laboratórios para comercialização de vacinas e não somos chamados a essas discussões. Estamos à margem da discussão. Só trabalhamos.”


Entre os profissionais de enfermagem, os relatos também são parecidos. “A doença mental é a mais prevalente entre os profissionais de saúde em geral. Na primeira onda, fizemos uma sondagem e foi mostrado que 84% dos profissionais tinham medo de se contaminar e contaminar os familiares. Não temos números atuais, mas certamente segue o mesmo padrão”, contou o presidente do Coren-SP.


Como melhorar condições de profissionais?


Em situações caóticas, em que o número de casos tende a aumentar, o presidente do Coren-SP lembra que a proteção não deve ser deixada de lado. “Os ambientes têm se tornado mais perigosos, pelo alto número de internados. Quando estamos com quase 100% de ocupação, todos acabam sofrendo com a falta de condição do trabalho. Quando o próprio secretário de saúde de São Paulo afirma que vai haver leitos em vários locais, nos corredores, o estresse aumenta. Porque essa situação expõe o profissional e o doente”, disse.


Para o dirigente da Associação Médica, só existe uma maneira de contribuir com os médicos e profissionais da saúde neste momento: diminuir o número de internações.


“A única possibilidade de oferecer uma ajuda concreta aos médicos é reduzir o número de casos. A receita já está muito clara para todos: isolamento, distanciamento social, higienização das mãos e, sobretudo, vacina. Vacina já. Não adianta dizer, vamos vacinar ao longo do ano, não adianta. O ritmo tem de ser mais rápido. Só diminuindo casos ajuda a condição dos médicos no Brasil”, apontou o presidente da AMB, César Eduardo Fernandes.


Fonte: Folha Vitória

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