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Com a hashtag #ondedói, campanha contra abusos médicos viraliza nas redes

RIO — Uma nova campanha está levando mulheres às redes sociais para contar casos de violência praticada por médicos de diversas especialidades. A hashtag #ondedói foi lançada na tarde desta segunda-feira, e à noite já estava em terceiro lugar nos Trending Topics do Twitter no Brasil. Junto com a hashtag foi lançado um site para dar apoio emocional e jurídico às vítimas que quiserem denunciar.

O projeto foi criado por uma coalizão de coletivos feministas , a partir da experiência da atriz e ativista Nina Marqueti, de 28 anos, que sofreu abuso do pediatra quando tinha 16 anos.

Ao longo desta segunda, dezenas de mulheres relataram nas redes casos de violência sexual em consultórios envolvendo ortopedistas, pediatras, gastros e, principalmente, ginecologistas. Os abusadores são, em grande maioria, homens, mas, em alguns casos, a agressão era feita por médicas mulheres.

Segundo o site do projeto , o objetivo é “promover a conscientização da sociedade a respeito da violência contra as mulheres praticada por profissionais de saúde”. O grupo pretende mapear denúncias e elaborar uma cartilha de conscientização que será disponibilizada futuramente.

Pedriatra motivou

Nina tinha 16 anos e se consultava havia anos com um pediatra prestigiado na cidade de Umuarama, no Paraná. Um dia foi ao consultório sozinha porque só ia entregar exames sobre um problema gástrico.

— Ele disse que estava tudo bem, mas que queria examinar meu abdômen de novo. Dizia que estava examinando, mas abaixou minha calça, calcinha, tocou minha genitália, colocou os dedos. Fingia o tempo todo que estava me examinando e falava “me fala onde dói”. Era uma discrepância entre o que ele falava e o que ele fazia, e eu fiquei com muito medo — disse ela, que só após alguns meses teve coragem de fazer o relato à mãe, mas a família não acreditou. 

Anos se passaram, e a atriz se mudou para os Estados Unidos, onde vive desde 2016.

— Esses últimos 10 anos fiquei tentando me convencer que nada aconteceu, que não foi nada demais, mas entrando em depressão, tendo ataques de pânico — conta.

Como o médico ainda estava atuando como pediatra, ela passou a se sentir também culpada:

— Senti que meu silêncio dava oportunidade para ele de fazer isso com outras pessoas.

Ela colocou seus sentimentos e sua história em um monólogo teatral. Depois da peça, com ajuda de jornalistas, descobriu que havia outras sete acusações sobre o mesmo médico e três boletins de ocorrência.

Foi então, na semana passada, que fez um BO com o pai como procurador, contando sua história. O Ministério Público aceitou a denúncia, e o pediatra agora é réu.

— Não tinha denunciado ainda. A gente não sabe como fazer e tem medo que se reverta contra você. Você pensa: ‘foi traumático, mas eu consigo lidar com isso. Mas e se surgir coisa pior com a minha denúncia?’. Mas agora, se vou falar, vou falar por mim e por pessoas que não podem. 

Foi assim que se reuniu com amigas e coletivos feministas no Brasil e no exterior para criar a campanha #ondedói.

Leia mais relatos

“Uma vez fui ao pronto socorro com febre e dor de garganta. O médico disse que eu precisava perder peso, pegou no meu peito e disse pra fazer redução pra não estragar minha coluna #ondedoi

“me privar de passar com médicos homens não bastou pra que a minha primeira experiência não fosse traumatizante. a ginecologista não conversou comigo e só por eu ter pedido pra tomar anticoncepcional ela fez o papanicolau sem avisar. eu tinha 14 anos e era virgem #ondedoi

“Tive parto normal e o médico fez a episiotomia sem me avisar, só pq ele queria que terminasse mais rápido. Cortou e costurou sem anestesia e quando reclamei da dor ele me disse que não se faz uma omelete sem quebrar os ovos #ondedoi

“aos 16 fui no ps com dor no peito fiz EGC o cara me fez tirar blusa e sutiã e não parava me de me encarar durante o exame. na semana seguinte fiz de novo e já fui tirando tudo, a moça disse que não precisava comentei da vez anterior e ela só balançou a cabeça em negação #ondedoi” 

“Num exame admissional o médico me fez citar todas tatuagens e depois pediu para eu tirar toda minha roupa para ele ver cada uma delas, mas principalmente as ‘escondidas’. Antes disso ele tinha feito eu ficar de quatro pra ver minha coluna (???). #ondedoi

Fonte: O Globo

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