O excesso de sexo pode ser um problema para a saúde, com impactos relevantes para a mente e o corpo.
Especialistas afirmam que não existe um número exato de relações sexuais por dia ou por semana que permita definir uma quantidade considerada saudável.
No entanto, a interferência do impulso e do comportamento sexual na rotina e nas relações afetivas pode ser um indício de que algo não vai bem.
“Pela literatura médica, não existe um número que a gente considere um limite ou ideal. Acredita-se que em torno de 3 a 5 relações sexuais por semana seja um número considerado saudável”, afirma o médico ginecologista Rogério Felizi, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.
“Isso pode variar de acordo com a idade e condição de saúde de cada pessoa. Dizer um número é difícil porque, na verdade, o que importa não é a quantidade, mas sim a qualidade das relações”, acrescenta.
Sexo saudável
O sexo saudável é aquele que causa satisfação aos envolvidos sem prejuízo a terceiros, afirma a sexóloga Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
“Esse sexo saudável pode ser praticado com as mais variadas frequências, desde que não interfira nas outras atividades, não prejudique a vida social ou profissional e as atividades da pessoa envolvida e da sua parceria. Para ser saudável, há necessidade que ele traga prazer a quem o pratica. Então, esse limite e essa quantidade não estão estabelecidos e nem devem estar”, explica a especialista.
A frequência das relações sexuais varia de acordo com a idade. Estudos apontam que, de fato, os jovens fazem sexo mais vezes em comparação com adultos e principalmente idosos.
“Existe um conceito que chama tempo refratário, que é o quanto você está satisfeito depois de uma relação sexual e quanto tempo levaria para você ter uma nova ereção, para poder ter um novo ato sexual. Esse tempo refratário tende a aumentar com a idade”, explica o médico Carlos Bautzer, especialista em medicina sexual do Hospital Sírio-Libanês.
“Isso significa que os jovens tendem a ter um tempo de recuperação mais rápido. Em geral, após alguns minutos eles já são capazes de ter uma nova ereção e uma nova relação sexual. Enquanto que os idosos vão ter esse tempo refratário maior que às vezes vai chegar não só a minutos, mas horas e muitas vezes dias”, completa.
Entre os benefícios da atividade sexual estão melhora do humor, liberação de hormônios e condicionamento físico, como explica o médico Rogério Felizi.
“Existem vários benefícios de uma atividade sexual saudável: o alívio da dor, geralmente associado à liberação de endorfinas, mais do que comprovado a melhora da qualidade do sono. Diminui a ansiedade e oferece proteção cardiovascular. Acredita-se que cada relação sexual pode queimar, em média, 85 a 95 calorias. Além de melhora da autoestima e da sensação de bem-estar”, pontua.
Compulsão
O comportamento sexual compulsivo está associado a um foco intenso não somente na prática, mas também em fantasias e impulsos que não podem ser controlados.
Diferentemente de uma alta da libido, que pode ser refletida na vontade de ter mais de uma relação por dia, a compulsão causa angústia e problemas para a saúde, relacionamentos, trabalho e outros âmbitos da vida.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a compulsão por sexo um distúrbio de saúde mental. Também conhecido como conduta sexual compulsiva, o problema faz a pessoa falhar em controlar suas necessidades sexuais, negligenciando sua saúde.
O transtorno de comportamento sexual compulsivo é caracterizado por um padrão persistente de falha no controle de impulsos sexuais intensos, resultando em comportamento sexual repetitivo.
Os sintomas podem incluir atividades sexuais repetitivas que se tornam um foco central da vida da pessoa a ponto de negligenciar a saúde e os cuidados pessoais ou outros interesses, atividades e responsabilidades.
Além disso, o quadro inclui numerosos esforços sem resultados para reduzir significativamente o comportamento sexual repetitivo, apesar das consequências adversas ou pouca ou nenhuma satisfação com a prática.
De acordo com a OMS, o padrão de falha no controle de impulsos e o comportamento sexual repetitivo resultante se manifesta durante um período prolongado de tempo (por exemplo, 6 meses ou mais) e causa sofrimento acentuado ou prejuízo significativo no desempenho pessoal, familiar ou social.
“Sempre que uma atividade extrapola aquilo que seria satisfatório, prazeroso ou bem-vindo na vida de alguém é considerada uma atividade compulsiva, uma atividade que prejudica e onera a vida do indivíduo, que interfere com o seu cotidiano e que o prejudica direta ou indiretamente”, explica Carmita.
As causas exatas da compulsão sexual não são totalmente esclarecidas pela comunidade médica. Entre as hipóteses estão alterações nos circuitos neurais associadas ao reforço, desequilíbrios de substâncias químicas naturais do cérebro e experiências traumáticas.
“Existe uma suposição bastante forte de que os compulsivos teriam um desequilíbrio de neurotransmissores que levariam a atitudes repetitivas. Eles precisam repetir tanto o sexo quanto comer, jogar, beber ou comprar, porque isto faz com que eles se aliviem. A ansiedade, o mal-estar e o desconforto se aliviam só com a atividade. Então, o compulsivo sexual precisa fazer sexo mesmo que ele esteja exaurido, porque senão ele não se sente tranquilo”, diz a sexóloga.
Experiências sexuais que comumente podem ser agradáveis fazem parte do comportamento compulsivo, incluindo masturbação, sexo virtual, uso de pornografia, múltiplos parceiros ou sexo mediante pagamento.
No caso da compulsão, os hábitos se tornam um foco constante para o indivíduo, um fator que acaba sendo prejudicial. São comuns comportamentos como faltar ao trabalho, ter relações em locais e horários inapropriados ou interromper um momento de convívio social para se dedicar ao sexo.
“Existem pacientes que têm uma compulsão por sexo, mas também não há um número que indique que, acima dessa frequência, se tem uma compulsão. A definição de compulsão seria o fato de que não ter a relação sexual atrapalharia muito a vida desse paciente. O indivíduo fica extremamente perturbado com a falta do ato sexual. Da mesma maneira, você pode dizer que uma compulsão acontece quando o paciente sacrifica atividades habituais para ter relação sexual”, explica Bautzer.
O tratamento inclui psicoterapia e o uso de medicamentos, de acordo com a complexidade de cada caso. Sem o acompanhamento adequado, a compulsão sexual pode prejudicar a saúde, autoestima e relacionamentos.
“O tratamento se constitui de psicoterapia, uma terapia sexual voltada para adequar o sexo em termos de quantidade, mas também de qualidade. Havendo necessidade, pode-se administrar medicamentos que ajudam a controlar a necessidade exagerada de sexo, e a terapia reorganiza esta atividade na vida da pessoa”, explica Carmita.
Em geral, os medicamentos usados para tratar o comportamento sexual compulsivo são prescritos para outras condições, como depressão e ansiedade. O uso deve ser feito de acordo com orientação e acompanhamento médico.
Alguns tipos de antidepressivos contam com efeito de reduzir a libido. Já a naltrexona, usada no tratamento da dependência de álcool, bloqueia a parte do cérebro associada ao prazer relacionado a comportamentos viciantes.
Estabilizadores de humor, comumente usados no cuidado do transtorno bipolar, também podem reduzir os impulsos sexuais compulsivos.
Impactos para a saúde
Quando o sexo se torna uma compulsão, os impactos podem ser significativos para as saúdes física e mental.
Para avaliar a necessidade de procurar ajuda profissional, podem ser avaliadas questões como a capacidade de controlar impulsos, o nível de angústia, o prejuízo para outras áreas da vida e se há vergonha ou tentativa de esconder o próprio comportamento sexual.
“Lesões, feridas, assaduras acabam acontecendo quando você tem muitas relações sexuais. Isso tem muito a ver com a nossa capacidade de conseguir lubrificação. Quando se tem atos sexuais sequenciais com penetração, tanto o pênis quanto a vagina acabam tendo uma certa limitação na quantidade de lubrificação que são capazes de produzir e isso acaba levando às lesões, queimaduras e feridas”, afirma Bautzer.
O especialista do Sírio-Libanês destaca ainda os riscos do uso de medicações orais ou injetáveis para obter ereções prolongadas.
“Às vezes, pacientes que têm compulsão sexual ou praticam muito sexo acabam fazendo uso de medicações para isso. Isso acaba fazendo com que, se a ereção for muito prolongada, o indivíduo entra em um quadro que se chama priapismo, uma ereção que dura mais do que 4 horas. O sangue que fica preso no pênis por mais de 4 horas começa a prejudicar a estrutura interna do órgão”, detalha
O ginecologista Rogério Felizi afirma que excesso de atividade sexual pode aumentar o risco de infecções de trato urinário.
“Nas mulheres, pode causar infecções genitais chamadas de vulvovaginites, que são causadas pelas escoriações da mucosa vaginal associadas ao atrito durante a relação sexual”, explica.
Fonte: CNN
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