Após DNA, técnica de enfermagem prova que é dona de cachorra e luta por devolução

A técnica de enfermagem Catiene Aloa da Silva Oliveira estava ansiosa para terminar uma longa espera pela sua cachorrinha shih-tzu Chewie, em São Carlos (SP), que havia fugido de casa há três anos.
Ela descobriu que o animal estava vivendo em uma casa em outro bairro, entrou na Justiça e fez um exame de DNA com o filho de Chewie que provou a identidade da cachorra que estava buscando.
Mas a expectativa do reencontro acabou se transformando em frustração depois que Gabrielle Sigoli, que deveria devolver Chewie, sumiu em 16 de dezembro.
A reportagem do Fantástico tentou falar com o advogado de Gabrielle, mas ele não quis dar entrevista. Desaparecimento Chewie chegou na vida de Catiene, conhecida como Cacau, quando tinha apenas 45 dias de vida. Foi doada por uma amiga, para amenizar a dor da perda por morte de outra cachorra da família da técnica de enfermagem.
Mas, em outubro de 2018, quando tinha dois anos, a cachorra desapareceu da casa, no bairro Bela Vista. “Eu estava atrasada, acredito que deixei o portão meio que aberto e ela escapou para ir atrás de mim. Mas eu saí muito rápido e acho que não deu tempo dela me alcançar”, diz Cacau. Ela só se deu conta do sumiço da Chewie quando voltou para casa e não foi recebida pela cachorra, como ocorria todos os dias. Por mais de uma semana, Cacau e sua família percorreram as ruas do bairro, perguntando sobre Chewie nas casas e comércios da vizinhança. Também começou uma campanha intensa nas redes sociais em busca do animal.
Ela conta que a família ficou desesperada sem saber onde estava a cachorrinha. O animal dormia na cama de um dos seus dois filhos e ele chorava todas as noites.
“É uma tortura. Quando um cachorro morre, a gente se conforma com a morte, né? Mas com o desaparecimento de alguém que a gente ama muito, de um animal que a gente ama de verdade, é um sofrimento contínuo, sabe? Eu entrei com remédios, medicamentos e tudo pra sanar essa dor que eu estava sentindo. Pra mim está sendo bem complicado mesmo”, conta. Denúncia anônima em rede social Até que um ano e meio atrás, as campanhas na internet deram resultado e a família recebeu uma mensagem em uma rede social: "Foi uma mulher que pegou ela. Ela sabe que a cachorra tem dono. Mudou todas as características da cachorra. Tosou ela inteira. Mas Deus sabe o que faz, o que é seu retorna pra você", dizia a mensagem feita por um perfil falso sem identificação. O denunciante disse também que a Chewei passou a se chamar Pandora e deu o nome da nova tutora: Gabrielle Sigoli.
“Aí essa pessoa veio com essa notícia: ‘Olha, eu sei com quem está. É de cortar o coração ver você procurar por essa cachorra e eu saber com quem está e não falar, né?”
Depois da mensagem, Cacau começou a investigar, descobriu onde Gabrielle morava e foi atrás de Chewei, mas nem conseguiu ver a cachorra. Segundo a técnica de enfermagem, a mulher disse que o animal não estava lá naquele momento e que a entregaria no dia seguinte.
“Eu comecei a chorar, meu esposo ali me acalmando, minha irmã estava lá comigo. E eu acreditei, né? De bom coração fui embora acreditando que no outro dia eles me devolveriam”, afirma. No outro dia veio a primeira decepção. A casa de Gabrielle estava toda fechada e ninguém apareceu para recebê-los, muito menos entregar a cachorra. Justiça e exame de DNA Após outras tentativas frustradas de reaver o animal, Cacau entrou na Justiça. A decisão, que determinava o mandado de reintegração de posse de Chewei para a técnica de enfermagem, saiu em 15 de dezembro.
Para que houvesse a decisão, o juiz pediu um exame de DNA da cachorra para comprovar que ela era mesmo o animal que Cacau procurava.
A comparação do DNA da cachorra que estava sendo disputada na Justiça deveria ser feita com a de Luck, o filho de Chewei que vive com a família de Cacau. Mas, na primeira tentativa outra frustração. A técnica de enfermagem conta que Gabrielle levou outra cachorra para fazer a coleta de sangue no laboratório.
Cacau percebeu que o animal não era Chewei e protestou. Somente na segunda tentativa, o exame foi realizado e demonstrou o vínculo genético entre a cachorra e Luck, comprovando que a cachorra que estava com Gabrielle era mesmo Chewie. “Eu fiquei extremamente feliz, né? Eu falei, 'nossa, agora ela vai voltar! É meu presente de Natal'. Deus, olhou assim, tudo no seu tempo. Eu creio nisso. Foi tudo no tempo Dele mesmo. Por mais demorado que tenha sido pra mim, foi assim. Saber eu já sabia, mas saber que era resultado positivo, saber por escrito ali, foi extremamente emocionante pra todos nós, né?", diz Cacau. Mulher desapareceu com cachorra A decisão judicial, porém, não pôs fim à história. Cacau e a família montaram uma recepção para Chewei, com festa, balões e a família toda reunida, mas, quando o oficial de justiça foi buscar a cachorra, foi informado pela sogra de Gabrielle que ela não morava mais lá e que não sabia de seu paradeiro. O oficial foi então até o trabalho de Gabrielle e mais uma vez não a encontrou. Os colegas informaram que ela foi trabalhar, mas teve uma emergência e precisou ir embora. Desde então, o oficial nunca encontrou a mulher.
A defesa de Gabrielle recorreu da decisão judicial e pediu um novo exame de DNA, alegando que, nos últimos três anos, a mulher criou laços afetivos com a cachorra, mas o pedido foi negado.
Com o sumiço de Gabrielle, a advogada de Cacau entrou com um pedido de multa pelo descumprimento da decisão judicial e ficou estabelecido a quantia diária de R$ 1 mil –limitada a R$ 10 mil – até que a ré entregue a cachorra. O que até agora não ocorreu. A advogada de Cacau conta que a defesa de Gabrielle chegou a oferecer outro cachorro no lugar, o que, claro, foi negado.
“Não se pode tratar um animal como um copo. Os animais são únicos, desenvolve essa relação de afeto e é isso que precisa ser preservado. O que é importante destacar que a Chewei só está afastada da família por três anos por ação de uma pessoa que não devolveu pra família.
Fatalidades acontecem, animais, infelizmente, podem escapar, mas a partir do momento que você encontra um animal na rua, é obrigação tentar achar o tutor, né?”, diz Carolina de Mattos. Cacau mantém a esperança de reaver sua querida cachorra e diz que não irá desistir de trazê-la de volta para sua família, ainda mais que a Justiça está ao seu lado. “Todo esse tempo que eu perdi, que foram três anos sem ela. Três anos de tortura. é um tempo de tranquilidade saber que agora está mais próximo e mais perto de ter ela aqui com a gente, no seio da família real dela mesmo, né? Então, com certeza ela vai continuar sendo amada como sempre foi e vai se acostumar facilmente com a gente novamente, independente do tempo.”
Fonte: G1