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Antidepressivos podem aumentar risco de demência em idosos

Nesta seção o psiquiatra Sivan Mauer destaca e comenta estudos relevantes no campo da psiquiatria. O Dr. Mauer é mestre em pesquisa clínica pela Boston University School of Medicine, e doutorando em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Além da prática privada exercida em São Paulo e Curitiba, o Dr. Mauer é clinical faculty na Tufts University School of Medicine, Boston (EUA).

1. Exposição a antidepressivos e risco de demência

A demência é caracterizada por um declínio cognitivo e um comprometimento das atividades cotidianas, trazendo uma alta carga financeira para a sociedade, além de ser uma importante causa de incapacidade e de morte. Cerca de 5% a 6% das pessoas acima dos 60 anos apresentam algum tipo de demência; e estima-se que o número de casos irá duplicar até 2040. Isto faz com que fatores modificáveis na prevenção da demência tenham uma importância cada vez maior e sejam uma prioridade para as autoridades de saúde.

Estudos mostram que a prevalência da depressão maior entre os idosos é de 1,8%, e tem se demonstrado um fator de risco/pródromo de demência. Além disso, embora pesquisas tenham demonstrado que a eficácia dos antidepressivos é limitada nesta população, este tipo de medicamento ainda é muito usado.

Hipóteses antagônicas existem, associando o uso de antidepressivos e o risco de demência. A primeira postula que a maioria dos antidepressivos possuem efeitos anticolinérgicos e estes efeitos prejudicam as funções cognitivas, aumentando o risco para demência. A segunda hipótese relaciona os antidepressivos ao BDNF, efeitos anti-inflamatórios, neurogênese hipocampal e modulação da ativação da glia, fazendo com que o risco de demência diminua.

Poucos estudos examinaram a associação entre o uso de antidepressivos e o risco de demência. A maioria deles mostra um aumento do risco, mas existem exceções. Além disto, o uso de antidepressivos não modificou o curso da alteração cognitiva em um estudo. Em outro estudo o uso de longo prazo de antidepressivos tricíclicos foi associado a uma redução do risco. A disparidade dos resultados pode ser explicada pela diferença nos desenhos dos estudos. A maioria deles não fizeram os devidos ajustes nos modelos de regressão.

O objetivo deste estudo foi testar a hipótese de que o uso dos antidepressivos pode estar associado a um aumento ou diminuição do risco de demência em pessoas com idade acima dos 60 anos. Para isto, foi usada uma coorte prospectiva israelense pareada (N = 71.515) com pessoas acima dos 60 anos, sem demência, seguidas desde maio de 2013 até outubro de 2017. Destes, 67.827 não foram expostos a antidepressivos e 3.688 foram expostos a antidepressivo em monoterapia. Foi usada a regressão cox.

Na análise primária o HR foi de 4,09 (IC 95%, de 3,64 a 4,60) e o ajustado foi de 3,43 (IC 95%, de 3,04 a 3,88). Foram feitas 24 análises de sensibilidade para analisar a taxa de risco, e os valores de HR variaram entre 1,99 e 5,47. Para lembrar: Este estudo mostra um aumento do risco de demência em pacientes idosos em uso de antidepressivos em monoterapia. Um bom diagnóstico diferencial nesta população é necessário, pois nem sempre os primeiros episódios depressivos dos pacientes são episódios de depressão maior; podem ser sintomas relacionados com doenças orgânicas, como doença de Parkinson ou Alzheimer, por exemplo. Outra possibilidade é um episódio de depressão bipolar em pacientes que já convivem com um dos três principais temperamentos (ciclotimia, distimia, hipertimia).

Referência: Kodesh, A. et al. Exposure to Antidepressant Medication and the Risk of Incident Dementia. Am. J. Geriatr. Psychiatry 27, 1177–1188 (2019).

Fonte: Medscape

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