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Alzheimer: conheça os 12 fatores de risco que podem ser evitados



A doença de Alzheimer é o tipo de demência mais comum no mundo e se caracteriza, principalmente, pela deterioração cognitiva e de memória, além de uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos e de alterações comportamentais, que ocasionam o comprometimento de atividades da vida diária. Estima-se que, no mundo, 47 milhões de pessoas sofram com algum tipo de demência, sendo que mais de 50% delas têm Alzheimer. Por isso, neste Dia Mundial de Conscientização sobre o Alzheimer, com ajuda de médicos geriatra, neurologista e psiquiatra, o Eu Atleta esclarece aspectos da doença e seus comprometimentos e explica dois estudos recentes, de 2020: enquanto o primeiro aponta 12 fatores de risco modificáveis, que podem prevenir até 40% dos casos de demência, o segundo oferece o que pode ser o primeiro exame de sangue capaz de diagnosticar precocemente o Alzheimer, detectando a doença 20 anos antes ou, ao menos, no estágio inicial.

Mesmo sendo alvo de muito esforço por parte da comunidade científica, a causa exata do Alzheimer ainda permanece desconhecida. A ciência aponta idade, hereditariedade e genética como fatores de risco não modificáveis para o transtorno neurodegenerativo progressivo. No entanto, cada vez mais se conhecem fatores de risco modificáveis, e um estudo recente acrescenta três a nova já conhecidos. Sabe-se ainda que a doença danifica e mata as células cerebrais, e que um cérebro afetado tem muito menos conexões entre as células sobreviventes do que um cérebro saudável. Conforme a doença avança, com mais células cerebrais morrendo, há um encolhimento significativo do cérebro. Quando os médicos examinam o tecido cerebral de Alzheimer sob o microscópio, é possível ver dois tipos de anormalidades que caracterizam a doença:

  • Placas: aglomerados da proteína chamada beta-amilóide que podem danificar e destruir as células cerebrais. Embora a causa final da morte de células cerebrais na doença de Alzheimer não seja conhecida, a coleção de beta-amilóide do lado de fora das células cerebrais é um dos principais suspeitos

  • Emaranhados: as células cerebrais dependem de um sistema interno de suporte e transporte para nutrientes e outros materiais essenciais ao longo de suas extensões. Este sistema requer a estrutura normal e o funcionamento de uma proteína chamada tau.

Ou seja, a doença se instala quando o processamento de certas proteínas do sistema nervoso central passa a não funcionar corretamente, surgindo, então, fragmentos de proteínas mal cortadas, tóxicas, dentro dos neurônios e nos espaços que existem entre eles. Como consequência dessa toxicidade, ocorre a perda progressiva dos neurônios em certas regiões do cérebro, como o hipocampo, que controla a memória, e o córtex cerebral, essencial para a linguagem e o raciocínio, memória, reconhecimento de estímulos sensoriais e pensamento abstrato. Diante desse cenário, a geriatra Cristina Bereicôa, membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, explica por que a idade avançada é o fator de risco mais associado à doença.

- As alterações neuropatológicas da Doença de Alzheimer se caracterizam pela presença de beta-amilóide extracelular e emaranhados neurofibrilares compostos pelo acúmulo intracelular de proteína tau. Essas alterações vão acontecendo de forma lenta e progressiva e há um longo período pré-sintomático entre o início das alterações bioquímicas no cérebro e o desenvolvimento dos sintomas clínicos da Doença de Alzheimer. Desta forma, é mais comum que a doença se manifeste na idade avançada - conta a geriatra.

É importante ressaltar que os fatores de risco são diversos, quee a idade avançada é só mais um entre eles e que a doença do Alzheimer não faz parte do envelhecimento natural. Além disso, existem pessoas que, com raras alterações genéticas ligadas ao início precoce da doença, começam a sentir os sintomas já na faixa dos 30 anos. Sendo assim, o médico neurologista Emerson de Paula divide os fatores de risco para a doença entre “os modificáveis e os não modificáveis”. - Além da idade avançada, existem a história familiar positiva para demência e mutações genéticas em genes relacionados ao amilóide e o alelo épsilon 4 da apolipoproteína E, que compõe os fatores que chamamos de não modificáveis. No entanto, ainda há os fatores modificáveis, que são relacionados às doenças cardiovasculares, como hipertensão, obesidade e diabetes - explica o médico neurologista pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Fatores de risco modificáveis Entre os “fatores modificáveis”, algumas evidências sugerem que eles se assemelham aos fatores de doenças cardíacas, além de também estarem ligados à demência vascular, um tipo de demência causada por vasos sanguíneos danificados no cérebro. Seguindo essa linha, a revista The Lancet publicou um relatório, em julho, redigido por 28 especialistas, que fazem parte da Comissão Lancet para prevenção, intervenção e assistência à demência, com 12 fatores de risco que ao serem evitados, podem prevenir ou atrasar o aparecimento de demências como Doença de Alzheimer, Parkinson e Huntington. Nove desses fatores já haviam sido publicados pelo grupo em 2017, e agora, outros três pontos foram acrescentados à lista:

  1. Hipertensão;

  2. Baixa escolaridade na infância;

  3. Deficiência auditiva;

  4. Tabagismo;

  5. Obesidade;

  6. Depressão;

  7. Diabetes;

  8. Baixo contato social;

  9. Inatividade física;

  10. Consumo excessivo de álcool;

  11. Poluição do ar;

  12. Lesões cerebrais traumáticas.

Juntos, os nove primeiros fatores listados estão associados a 34% dos casos de demência. O consumo excessivo de álcool, poluição do ar e lesão cerebral traumática foram somados à lista e representam, respectivamente, 1%, 2% e 3% dos casos. Embora grande parte ainda possua causas variáveis ou desconhecidas, já que os dados dos “fatores modificáveis” representam menos de 50% dos casos e servem apenas como uma estimativa, é de se ressaltar que a melhora no estilo de vida é essencial para a boa saúde e prevenção das demências, como pontua a geriatra Cristina Bereicôa. - Não há evidência de que uma intervenção única seja eficaz em retardar ou prevenir a demência, porém existem evidências de que a modificação intensiva dos fatores de risco possa retardar ou prevenir casos de demência no mundo. Essa mudança dos fatores de risco, por meio da melhora do estilo de vida, deve acontecer, principalmente, entre 45 e 65 anos de idade - afirma a médica. Sintomas As inúmeras variações não se restringem somente às possíveis causas, os sintomas também são múltiplos. A perda de memória recente, sintoma mais associado à doença, costuma se apresenta logo no início. Com a progressão, vão aparecendo sintomas mais graves como a perda de memória remota (ou seja, dos fatos mais antigos), assim como irritabilidade, falhas na linguagem, prejuízo na capacidade de se orientar no espaço e no tempo. Para planejar os cuidados e tratamentos, apesar dos sintomas evoluírem de maneira diferente em cada paciente, os especialistas costumam dividir a doença em três estágios: leve, moderada e avançada.

FASE LEVE

  • Alterações de humor e comportamento (apatia, irritabilidade, depressão, ansiedade);

  • Desorientação (a pessoa pode se esquecer do caminho de casa);

  • Dificuldades de concentração e raciocínio;

  • Perda de memória leve.

FASE MODERADA

  • Alterações de comportamento (agitação, inquietação e, às vezes, agressividade);

  • Alucinações e delírios podem ocorrer;

  • Desorientação mais grave (a pessoa pode se perder mesmo dentro de casa);

  • Dificuldades de comunicação mais acentuadas;

  • Dificuldades de raciocínio, juízo e crítica;

  • Distúrbios de sono (tendência a trocar a noite pelo dia);

  • Problemas de memória mais graves (é preciso que a pessoa tenha supervisão).

FASE AVANÇADA E TERMINAL

  • Supervisão contínua, com auxílio a alimentação, banho, trocas etc;

  • Confinamento em cama ou cadeira de rodas;

  • Dificuldades de locomoção;

  • Dificuldades para engolir;

  • Dificuldade para entender o que acontece ao redor;

  • Incapacidade de se comunicar;

  • Incontinência urinária e fecal;

  • Perda de equilíbrio;

  • Perda de memória grave (a pessoa deixa de reconhecer as pessoas).

Também comuns são as mudanças comportamentais, principalmente a irritabilidade e agressividade. Para o neurologista Emerson de Paula, elas podem acontecer sem uma causa aparente, mas também podem ser frutos de algo que causou frustração, desconforto físico (cansaço, dor, fome) ou situações ambientais desagradáveis.

- O primeiro passo é entender que a agitação ou agressividade trata-se de um comportamento reativo a algum estímulo, seja de ambiente externo ou interno. Isso ocorre porque devido ao processo demencial, o paciente perde a capacidade de se comunicar efetivamente com a linguagem. Por exemplo, dor, fome, solidão, tristeza, barulho, calor, frio podem ser os desencadeantes. A falta de controle sobre esses sintomas leva à perda de qualidade de vida do paciente e ao aumento de estresse dos cuidadores - explica o médico.

O diagnóstico hoje é essencialmente clínico, feito com base em uma anamnese detalhada, de forma que sejam caracterizadas as deficiências cognitivas e perdas funcionais. Exames laboratoriais podem ser indicados para exclusão de outras etiologias, assim como exames de neuroimagem que apoiam o diagnóstico. A avaliação neuropsicológica também é uma ferramenta importante, sendo que, de acordo com psiquiatra Higor Caldato, o tratamento envolverá diferentes adequações conforme o estágio da doença e afetará todas as pessoas próximas ao paciente.

- Em todos os estágios é necessário suporte aos familiares, cuidadores e aos pacientes. Nas fases leve e moderada, existe a possibilidade do uso de medicamentos que irão retardar o avanço da doença, porém a mesma continuará a progredir. Nas fases grave e terminal, o suporte emocional e de psicoeducação aos familiares e cuidadores precisa ser intensificado, devido o grau de dependência a terceiros que o paciente exige. Em alguns estágios, também podem acontecer alterações comportamentais que exigem maior proximidade e orientação do psiquiatra para controle - afirma o médico psiquiatra pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Diagnóstico precoce por exame de sangue Em julho, pesquisadores, pela Universidade de Lund, na Suécia, apresentaram na Conferência Internacional da Associação de Alzheimer um artigo que mostra a eficácia do que pode vir a ser o primeiro diagnóstico laboratorial acessível da doença. Nele, um simples exame de sangue pode medir uma proteína chamada p-tau217 e prever a doença até 20 anos antes, além de o exame também poder detectá-la ainda no estágio inicial.

O estudo observacional incluiu 1.402 pacientes. Na primeira fase, a proteína p-tau217 foi identificada como um biomarcador sanguíneo altamente preciso para a detecção da doença de Alzheimer, sendo medida através do sangue. A partir desse momento, analisando os mais de 1.400 casos e incluindo um grande estudo clínico da Suécia, houve uma comparação com outros biomarcadores experimentais atuais (p-tau217, p-tau181, A42/40 e cadeia leve de neurofilamentos) no sangue, no líquido cefalorraquidiano e tomografias. O resultado apontou que a proteína p-tau217 tem capacidade de distinguir a doença de Alzheimer de outras desordens neurodegenerativas com precisão diagnóstica entre 89% e 98%. Os níveis de p-tau217 aumentaram cerca de sete vezes na doença de Alzheimer e, em indivíduos com um gene causador da doença, os níveis começaram a aumentar já 20 anos antes do início do comprometimento cognitivo.

Os pesquisadores ainda avaliaram o desempenho das proteínas amiloides e tau no sangue. Os cientistas mapearam a proteína tau e depois compararam os resultados com as imagens de tomografias e com medição pelo líquido espinhal (LCR). Dessa forma, eles descobriram que a p-tau217 estava intimamente ligada ao acúmulo de placas amiloides no cérebro, conforme medição por tomografia. Em outro corte do estudo, as proteínas p-tau217 e p-tau181 foram comparadas, e o resultado mostrou que a p-tau181 é três vezes mais alta em pessoas com Alzheimer do que em idosos saudáveis ou portadores de outras doenças neurodegenerativas. De acordo com os pesquisadores, o estudo mostra que tanto o p-tau217 quanto o p-tau181 medidos no sangue são elevados na doença de Alzheimer. O início das alterações bioquímicas no cérebro e o desenvolvimento dos sintomas, período conhecido como pré-sintomático, atravessa anos. Para a geriatra Cristina Bereicôa, embora demore para esse exame de sangue estar disponível para a população, já que são necessárias mais pesquisas com populações mais diversas e estudos randomizados, a tecnologia traz esperança para a existência de um diagnóstico de baixo custo e preciso, o que potencializará os efeitos do tratamento e ajudará as pessoas com histórico familiar de Alzheimer:

- A detecção precoce da Doença de Alzheimer vai colaborar na elaboração de um plano de cuidados adequados, em uma fase em que o paciente ainda tem autonomia para definir as suas escolhas. Em relação ao tratamento, haverá mais tempo para realização de atividades que melhorem a capacidade física e cognitiva, possibilitando uma maior reserva funcional que será necessária nas fases avançadas da doença. Além disso, se surgirem tratamentos modificadores da doença, medicamentos poderão ser utilizados mais precocemente - explica a médica geriatra. Atividade física e prevenção Estudos anteriores já atestaram conexão entre prática física e prevenção, inclusive com menos marcas associadas ao Alzheimer nos cérebros de idosos que praticam atividades físicas. Como não há cura para o Alzheimer, os tratamentos têm como objetivo adiar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida do paciente. No estágio inicial, porém, é possível que haja uma melhora dos sintomas, como ressalta a geriatra Cristina Bereicôa. - A atividade física melhora a capacidade funcional e pode deixar o paciente independente fisicamente por mais tempo. É possível que o exercício físico seja benéfico como um dos pilares de uma estratégia mais abrangente de redução dos fatores de risco - aponta a médica.

A atividade física ainda atua no controle de problemas que afetam a saúde e, consequentemente, podem agravar os quadros de demência, como pressão arterial, colesterol, triglicerídeos e glicemia. Segundo estudo do Instituto Nacional do Envelhecimento (National Institute on Aging), nos Estados Unidos, o controle da pressão arterial é fundamental para retardar o surgimento da doença. Ou seja, praticar exercícios atua não só no sedentarismo, um dos fatores modificáveis, como em outros desses fatores. E é decisivo para amenizar sintomas típicos do Alzheimer, como depressão e ansiedade, além de melhorar o metabolismo e as funções cardiovasculares, aumentando a oxigenação cerebral.

Benefícios do exercício sobre o Alzheimer:

  1. Controla fatores de risco, como pressão arterial, glicemia, colesterol e triglicerídeos;

  2. Função protetora dos neurônios: estudos indicam que quem faz atividade física previne o depósito da proteína beta-amilóide em torno das células nervosas;

  3. Libera hormônios e substâncias como irisina, dopamina, endorfina e serotonina, que em conjunto protegem o cérebro e agem sobre a saúde mental;

  4. Melhora o metabolismo e as funções cardiovasculares, o que aumenta a oxigenação cerebral;

  5. Tem efeito benéfico contra sintomas da demência, como depressão e ansiedade.

E não são somente estímulos físicos que podem ajudar na luta contra doença. Ainda de acordo com a geriatra Cristiana Bereicôa, a estimulação cognitiva (por exemplo, com jogos, desafios mentais etc) e social (com atividades em grupo, convívio familiar) proporcionam bem-estar aos pacientes.

- Muitas intervenções cognitivas, incluindo treinamento de memória e ajudas organizacionais, podem causar melhora de curto prazo na cognição em idosos saudáveis. Também é provável que quanto maior o esforço intelectual durante a vida, maior será a reserva cognitiva, o que diminui o impacto da patologia degenerativa na função cognitiva. Porém, não há indícios de que a educação tenha um efeito protetor contra o desenvolvimento da demência - conclui a médica. Exercícios indicados:

  • Caminhada

  • Corrida leve

  • Dança

  • Hidroginástica

  • Musculação

  • Natação

Fonte: Globo Esporte

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